José Manuel Duarte de Jesus: “A diferença entre a China e a Rússia é enorme”

por Gonçalo Lopes

Ex-embaixador de Portugal em Pequim e Pyongyang, José Manuel Duarte de Jesus defende que a China tem mantido uma estratégia para a sua política externa semelhante desde 1949. Quanto à situação na Ucrânia, diz que a China “está a fazer as coisas com grande subtileza”

Quando é fundada a RPC, em 1949, Mao Zedong passou a liderar um país ainda fechado ao mundo. Neste período como eram as relações externas chinesas?

Na conferência de Bandung [em 1975], Zhou Enlai, então primeiro-ministro chinês, delineia as grandes linhas que vão orientar a diplomacia chinesa e a política externa. É interessante ver que, no caso da China, comparando com a maior parte dos países, tem havido uma constância enorme na sua política externa.

Até aos dias de hoje.

Mesmo com os problemas que se colocam hoje com a Ucrânia, julgo que a linha básica é a mesma. Isso verifica-se no caso de Taiwan e até com os problemas de agora. As últimas declarações de Wang Yi [ministro dos Negócios Estrangeiros] sobre a Ucrânia não diferem muito da política estabelecida. Vimos que a China condena a invasão, mantém a sua ideia de multilateralismo, a defesa das grandes orientações da ONU. A sua abstenção nas votações manteve-se quando foi do problema da Crimeia. A ideia da China é evitar meter-se nas crises internas de outros Estados.

A China abstém-se, mas a comunidade internacional insiste numa tomada de posição. Isso vai acontecer?

Condeno absolutamente a invasão na Ucrânia. Mas uma coisa é condenar, outra é votar publicamente contra. A China já está a assumir alguma posição. Recentemente houve um longo telefonema da ministra dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia com Wang Yi. A China está a fazer as coisas com grande subtileza, está a ter uma intervenção no sentido de promover o diálogo, mas não o faz publicamente. O pragmatismo da China, no que diz respeito à política externa, é imenso. Duvido que a China torne pública uma posição. Temos de ter alguma atenção a estas coisas que se vão dizendo, nomeadamente da grande aproximação entre a Rússia e a China.

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