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Dia de São Valentim

João MeloJoão Melo*

Hoje é dia de S.Valentim também conhecido por Dia dos Namorados.

Produto de gerações anteriores apercebi-me que a tradição deste dia em Portugal cresceu ao ritmo da implantação dos centros comerciais. Na sua forma moderna surgiu no auge do período romântico, a meio do século XIX nos Estados Unidos, após um comerciante fazer fortuna a vender cartões do Dia dos Namorados. A moda pegou e veio proporcionar uma janela de consumo entre a passagem de ano e o carnaval. Ninguém gosta de ficar à margem e se os outros compram lembranças para os seus namorados porque não haveria eu de comprar? Socialmente funcionamos assim, ou acreditamos ou seguimos a onda colectiva ainda que sem convicção.

Nada tenho contra o dia de S.Valentim nem contra o que alguns consideram ser a apropriação de uma data religiosa, afinal a própria Igreja deixou de o celebrar; será apenas mais um motivo para demonstrar afeição através da compra de um presente. Ademais acho piada lastimar-se o declínio do simbolismo das festividades religiosas quando foi o Vaticano a apoderar-se da maioria das pagãs logo que os cristãos converteram o Império Romano. Talvez a mais importante, o Natal, é uma usurpação do solstício de inverno, e cruzando diversas fontes presume-se que o nascimento de Cristo se situe algures entre 7 e 4 AC ou seja, antes dele próprio, sem certezas quanto ao mês. Colocar o seu nascimento nessa altura do ano indicia que a celebração substituída pelo Natal seria muito importante.

Ao sabor das conquistas, sítios transformaram-se em templos, mesquitas em igrejas e vice-versa, garagens e cinemas em templos evangélicos, até que no futuro todos voltarão a ser sítios, nada se manterá de pé. A razão de ser da época natalícia, o menino Jesus actualmente luta contra a forte concorrência do Pai Natal, uma espécie de braço armado do capitalismo, e o “ataque” ao Natal bem como a outras efemérides mostra que o capitalismo se constitui o principal inimigo do cristianismo. Em suma, as datas festivas geralmente comemoram o último vencedor de uma peleja. É assim que, por exemplo, vejo o meu aniversário, mais uma batalha anual vencida contra o tempo. Os que são lembrados em efemérides depois da morte venceram o esquecimento. 

Os costumes relacionados com o dia de S. Valentim têm provável origem num festival de fertilidade romano exaltado nesta data e, como quase todas as ancestrais celebrações, derivam dos ritmos da natureza. No fundo vamos sempre dar ao mesmo, as religiões, os modelos de sociedade variam conforme as épocas mas sem água, oxigénio, alimento, sem a Terra não há vida. O Sol fornece energia, a Lua estabiliza a rotação da Terra, Júpiter protege-nos de meteoritos, enfim somos uns mimados à escala planetária. Haverá história de amor mais bela do que a que este conjunto de gases e calhaus escreve para nós? Nenhum par de namorados poderia desfrutar o romantismo sem as condições de que dispomos, demos graças por nos terem sido providenciadas.

Se não conseguem dirigir a vossa gratidão a coisa ou entidade que eventualmente montou o cenário onde vivemos, sugiro oferecer respeito por ele, e já agora comprar uma lembrança para a namorada ou namorado, não vão eles julgar que estão atrás da importância do universo. Porque como adverte o ditado “no íntimo foro um deus despeitado faz mais estrago que um meteoro”.

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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