‘Os Lusíadas’ foram traduzidos para turco

por Gonçalo Lopes

Ibrahim Aybek trocou Istambul por Lisboa em 2008 graças ao programa Erasmus quando estudava arquitetura e a sua vida nunca mais foi a mesma: aprendeu português, casou-se por cá, tem uma filha e um filho luso-turcos, trabalhou como cooperante em países lusófonos e até traduziu Os Lusíadas para turco, obra lançada em outubro do ano passado. “O livro, que em turco se intitula Lusitanyalilar, desde a sua publicação criou muito entusiasmo nos leitores da Turquia, recebeu grandes elogios, até escritores importantes falaram bem sobre esta tradução, partilharam no Twitter, no Instagram, e posso dizer que esta obra tornou-se imortal na literatura turca e vai ter novas edições. Tornou-se já um clássico mundial na Turquia e nem eu conseguia adivinhar que houvesse tanta curiosidade”, conta Aybek, sentado numa pastelaria de Benfica, perto da casa onde vive desde que voltou a Lisboa depois de alguns anos passados na Turquia com a família e também em países como Moçambique e São Tomé e Príncipe a trabalhar para a Agência de Cooperação Turca.

Surpreendido por uma obra da importância de Os Lusíadas não ter tradução para turco, Aybek descobriu que não se tratava de falta de procura, e que o grande problema era o tamanho do trabalho, o enorme desafio de converter para outra língua as palavras tão ricas do poeta português do século XVI. “Soube que muitos tradutores recusaram fazer este trabalho porque não queriam arriscar a sua carreira. Uma obra mal feita, mais vale não fazer”, conta. Antes de avançar, acrescenta, pensou também como seria recebido um livro com inúmeras passagens hostis ao islão, mas depois pensou que se obras como A Divina Comédia já tinham sido traduzidas, então era sinal de que a sociedade turca lidava bem com estes livros, considerados grandes clássicos e lidos à luz do contexto da época.

Embora o laicismo seja forte na moderna República da Turquia, fundada por Mustafa Kemal Atatürk em 1923, a cultura islâmica faz também parte da identidade nacional e no caso da família de Ibrahim Aybek até existe uma ligação a Rumi, o inspirador do sufismo. “Tive especial preocupação em proteger o profeta, mas respeitando o que escreveu Camões, e por exemplo quando escreve “Torpe Maomé”, traduzi corretamente, mas deixei a palavra torpe riscada embora legível”, explica.

Leia mais em Diário de Notícias

Pode também interessar

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!