Oportunidade para uma “recuperação verde”

por Guilherme Rego
Gladys Ng*
recuperação verde

A pandemia, apesar de ter retardado o progresso do desenvolvimento sustentável, poderá servir como oportunidade para transformar o mundo num lugar melhor. Especialmente no que diz respeito à relação entre o ambiente e a economia.

As alterações climáticas e a perda de biodiversidade levaram ao nascimento de um terreno propício para a atual pandemia. Estas alterações e a destruição de habitats causam a transmissão de vírus entre espécies animais que de outra forma não entrariam em contacto. Com uma população em crescimento e as regiões habitadas a alargarem-se, a espécie humana e a vida selvagem estão cada vez mais próximas.

Isto facilita a propagação epidémica. O modelo original da economia explora por completo o ambiente e os seus recursos naturais, danificando-o através de emissões de substâncias nocivas e poluição. Isto acaba por trazer alguns riscos à saúde pública, assim como dificuldades económicas.

Este surto é uma mensagem clara de que voltar à normalidade não é suficiente para recuperar de uma pandemia, muito menos prevenir a próxima. Se de facto conseguirmos voltar à normalidade, o desenvolvimento económico deverá seguir a direção da restauração ecológica. Por esta razão é que muitos países estão agora a esboçar planos com base numa recuperação de elementos sustentáveis.

Um programa de “recuperação verde” combina medidas de ajuste económico com objetivos climáticos, onde várias normas cobrem áreas como a transição para energias renováveis, os transportes ecológicos, a construção de edifícios de baixa emissão e a restauração dos ecossistemas.

Cerca de 340 mil milhões de dólares americanos (aproximadamente 2,7 mil milhões de patacas) foram investidos em projetos verdes em 2020, segundo uma análise da Universidade de Oxford aos orçamentos dos 50 maiores países do mundo. O Ministério das Finanças da China revelou ainda que canalizou um total de 630 mil milhões de renminbis (aproximadamente 790 mil milhões de patacas) na conservação de energia e proteção ambiental em 2020. A economia verde global continua a crescer.

O Financial Times Stock Exchange 100 Index, cotado na bolsa de valores de Londres, registou cerca de três mil empresas mundiais envolvidas em economia verde (incluindo áreas como produção energética, recursos naturais, agricultura e produção de alimentos sustentáveis). Estas empresas conseguiram gerar resultados “verdes” equivalentes a 4,3 mil milhões de dólares (aproximadamente 34 mil milhões de patacas) em 2020, com um crescimento anual de 8 por cento.

Por sua vez, o mercado da finança sustentável na China já se tornou num dos maiores do mundo. Os créditos verdes no final do segundo trimestre de 2021 representaram um volume de 13,92 mil milhões de renminbis, com um crescimento anual de 26,5 por cento. À medida que a economia verde cresce, as oportunidades de trabalho na área também. De acordo com o Fórum Económico Mundial, caso os nossos sistemas de uso de recursos e construção fossem mais sustentáveis, seria possível criar oportunidades de negócio no valor de 10 mil milhões de dólares (aproximadamente 80 mil milhões de patacas) e 3,95 milhões novos empregos.

Já a Coligação para a Transição Urbana estima que a transformação de cidades mundiais em centros de baixas emissões poderá gerar oportunidades de negócio no valor de 23,9 mil milhões de dólares (aproximadamente 192 mil milhões em patacas), apoiando 87 milhões de empregos até 2030.

A CLG Europe usou um modelo macroeconómico para avaliar e comparar o impacto socioeconómico e ambiental do seu programa de “recuperação verde” com apenas cortes fiscais. O diagnóstico revelou que seria possível manter dois milhões de empregos na União Europeia a curto prazo e gerar crescimento no emprego num longo prazo.

O mesmo plano acrescenta a possibilidade de reduzir as emissões de carbono em 15 por cento, comparativamente ao período pré-pandemia. Uma “recuperação verde” conseguirá não só revitalizar a economia, como também ajudar a cumprir os objetivos de redução de carbono definidos pelo Acordo de Paris.

Desta forma, pode-se reabilitar o ambiente e criar imensas oportunidades de emprego. O Governo de Macau lançou o “Plano de garantia do emprego, estabilização da economia e asseguramento da qualidade de vida da população” com o intuito de ajudar os residentes a enfrentar os desafios económicos trazidos pela pandemia.

O programa engloba benefícios como vales de consumo eletrónico e reduções fiscais para fomentar a economia local. As Linhas de Ação Governativa (LAG), dos últimos dois anos, têm procurado promover a deferenciação da atividade económica local, com um foco no desenvolvimento de novas indústrias como a saúde, a finança moderna e a alta tecnologia.

Contudo, o mercado laboral em Macau continua inevitavelmente a sofrer. A taxa de desemprego cresceu 1,1 por cento em comparação com o período pré-pandemia, havendo mais de 10 mil residentes sem emprego.

Ainda que a proteção ambiental seja mencionada tanto nas LAG como no Segundo Plano Quinquenal, não possui o mesmo detalhe da promoção das novas indústrias (no que diz respeito ao investimento, medidas económicas e financeiras, estas também carecem de elementos verdes).

Visto que Macau tabelou o objetivo de atingir o seu pico de emissões, bem como o da neutralidade de carbono, porque não considerar a integração de medidas verdes para o desenvolvimento da economia, criando um mercado de trabalho ecológico?

A cidade poderia melhorar o desenvolvimento do seu mercado financeiro verde. Podia oferecer subsídios para diminuir os níveis de emissão dos seus edifícios e adaptá-los às alterações climáticas, financiando a restauração e a limpeza ecológica para criar mais oportunidades de emprego. Acredito que se o Executivo adotar um plano de “Recuperação Verde”, será possível transformar Macau num espaço ecológico durante a sua recuperação económica.

*Gestora de Projetos Ambientais e Sociais na GenervisionHouse

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