Sustentabilidade nos aeroportos 

por Guilherme Rego
Ray Wong* Ray Wong* 

O aeroporto Changi, em Singapura, cobre uma área total de 14 mil metros quadrados e é um dos principais centros de ligação entre 80 países. Já com quatro terminais, prepara a construção de um quinto. Altamente funcional, tem ainda ligação direta de comboio ao centro da cidade, sendo possível viajar entre os terminais a pé, comboio ou autocarro.   

O espaço interior é igualmente pioneiro: cada edifício tem característica e funções específicas, incluindo jardins interiores, cascatas, paredes cobertas de “verde”, simbolizando a presença da Mãe Natureza. Entres estes, destaco o Jewel Changi, com o seu “Rain Vortex” – jardim com uma cascata no núcleo e detentor de vários espaços de entretenimento. Mesmo num mundo marcado pela pandemia, o tráfego do aeroporto apenas foi reduzido a 10 milhões em 2020, não impedindo a sua contínua expansão.   

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Além do desenvolvimento de infraestruturas, o aeroporto conta com uma série de práticas sustentáveis, partilhando ainda um relatório anual de sustentabilidade com todos os dados relevantes. Segundo estes, Changi recebeu o certificado nível 3 de Creditação de Carbono de Aeroportos (Airport Carbon Accreditation), não sofreu quaisquer fatalidades no local de trabalho e foram avaliados como “sem defeitos” pela Federação Internacional de Associações de Pilotos de Linha Aérea.   

Tem ainda a certificação ISO 14001:2015 – Sistemas de Gestão Ambiental (SGA), garantindo que todos os edifícios seguem as normas do ciclo a que o ISO obriga, através de inspeção anual com base no modelo “Planear-Executar-Verificar-Agir”. Resultado? As emissões de gases de estufa no aeroporto e o seu consumo elétrico total foram reduzidos em metade (50%) entre 2020 e 2021. Sendo que durante certos períodos do ano o aeroporto alberga um número reduzido de pessoas, instalou-se um sistema de iluminação sensorial que permite minimizar o desperdício de energia elétrica.   

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Estão também em prática vários critérios para a gestão das águas do aeroporto, com equipamentos de conservação de água, recolha de chuva, reutilização de águas de refrigeração em torres de arrefecimento e reciclagem. Sobre a redução de resíduos, o aeroporto produziu menos 82 por cento de desperdício entre 2020 e 2021, comparativamente com o período anual anterior. Os resíduos incinerados também foram reduzidos em 15 por cento.   

É claro o esforço do aeroporto na criação de um desenvolvimento sustentável, procurando melhorias todos os anos. Os dados mencionados no texto estão disponíveis no website oficial do aeroporto, que incentiva a supervisão pública da administração e desempenho.   

Hong Kong 

Olhando agora para a nossa cidade vizinha de Hong Kong, o aeroporto internacional é um dos mais movimentados do mundo, contando com 35 tecnologias sustentáveis no design, construção e administração do local. O plano passa pela construção de um corredor de passageiros adaptado ao ambiente, com vidros de alta performance, refletindo 40 por cento do calor produzido pelo sol. As janelas viradas para Norte ajudam igualmente a reduzir os custos de iluminação artificial durante o dia. As águas residuais e condensação são depois recolhidas, tratadas e reutilizadas no sistema de refrigeração. Um total de 1200 metros quadrados de painéis fotovoltaicos serão instalados no telhado para recorrer à energia renovável. O aeroporto usa ainda materiais não-voláteis, vasos de plantas e paredes cobertas de “verde”, assim como estações de carregamento para veículos e equipamentos elétricos, promovendo assim o desenvolvimento sustentável do aeroporto de forma variada.  

Macau 

A nível de transportes, as estações do Terminal Marítimo da Taipa e do sistema de Metro Ligeiro ligado ao aeroporto de Macau têm capacidade de responder à procura atual e futura, tendo ainda a possibilidade de introduzir autocarros shuttle durante a madrugada e de alargar o horário de funcionamento do metro. Com o passar do tempo, tendo em conta o sistema de transportes da cidade já altamente desenvolvido, com ligações diretas às Portas Do Cerco, Hengqin e Zona A dos Novos Aterros Urbanos, e ainda distâncias de 10 minutos a pé entre as principais atrações do centro urbano, o estatuto de Macau como centro internacional de turismo e lazer será exacerbado.  

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O Aeroporto Internacional de Macau decidiu converter o atual Terminal Marítimo de Passageiros Pac On no segundo terminal do aeroporto. Em conjunto com todas as instalações necessárias, sugiro que o design do interior tome como inspiração o aeroporto de Singapura, com a adição de elementos representantes de Macau, incluindo o seu centro histórico, herança cultural, população macaense e peças de artesanato.  

Tendo em conta que na sua maioria os turistas que o aeroporto de Macau recebe atualmente são da China Interior, é também possível iniciar uma colaboração com várias cidades do continente através de pequenas exposições culturais, oferecendo aos visitantes um certo sentimento de familiaridade.  

Relativamente ao desenvolvimento sustentável, o aeroporto de Macau não tem qualquer relatório oficial. No website só têm uma página onde mencionam a adição de uma série de plantas no edifício, assim como o uso de veículos elétricos, contudo, não há dados concretos. A meu ver, podiam ser mais transparentes com as suas decisões e administração. Assim o público poderia monitorizar e contribuir para o seu desenvolvimento sustentável.   

* Coordenador Administrativo na Genervision House 

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