Brasil cancela cimeira presencial do Mercosul e substitui-a por virtual

por Filipa Rodrigues
Lusa

O Brasil, que preside temporariamente ao Mercosul, cancelou na quarta-feira a reunião presencial que os Presidentes dos países do bloco teriam em Brasília em 17 de dezembro e acrescentou que o encontro será virtual

O Ministério brasileiro das Relações Exteriores, num comunicado enviado à agência espanhola Efe, anunciou que a cimeira do Mercosul e dos seus Estados associados, na qual participarão os chefes de estado dos países do bloco (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), será realizada por videoconferência no próximo dia 17 de dezembro.

A nota acrescenta que a Reunião Ordinária do Conselho do Mercado Comum, que reúne os ministros das Relações Exteriores e da Economia dos países-membros, também será realizada por videoconferência em 16 de dezembro.

Apesar de o ministério brasileiro se abster de explicar o motivo da suspensão dos encontros presenciais, fontes da tutela citadas pela imprensa local afirmaram que se trata de uma medida preventiva contra a ameaça de uma nova vaga da pandemia de covid-19 e do surgimento da variante Ómicron.

Algumas versões da imprensa também citam como motivo a inquietação gerada no Governo brasileiro com a decisão do Presidente da Argentina, Alberto Fernández, de receber na próxima sexta-feira o ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, principal rival político do atual chefe de Estado, Jair Bolsonaro,

“O ex-presidente receberá na sexta-feira o Prémio Azucena Villaflor, que o Governo da Argentina concede aos defensores dos direitos humanos”, anunciou o partido de Lula em comunicado, no qual esclareceu que a cerimónia será comandada por Fernández, que também terá um encontro com o ex-presidente brasileiro na Casa Rosada.

O executivo brasileiro havia revelado que Bolsonaro aproveitaria a cimeira do Mercosul para ter a sua primeira reunião com Fernández, agora também cancelada.

Até agora, o líder brasileiro recusou-se a se reunir com Alberto Fernández e absteve-se de participar na sua tomada de posse, devido à proximidade do argentino com Lula, seu principal rival político e que poderá enfrentar nas eleições de outubro do próximo ano.

Bolsonaro, aliado do ex-Presidente argentino Mauricio Macri, tem criticado duramente a política de esquerda de Fernández na Argentina, assim como a proximidade do Presidente e da sua vice-presidente com Lula, o que fragiliza as relações entre as duas maiores economias do Mercosul.

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A situação piorou em junho, quando Fernández, num comentário pelo qual depois se desculpou, afirmou que “os brasileiros haviam surgido da selva, enquanto que os argentinos chegaram da Europa de barco”.

O encontro entre Lula e Fernández ocorre duas semanas depois de Bolsonaro qualificar como uma “provocação” o facto de o Presidente de França, Emmanuel Macron, ter recebido o ex-líder brasileiro em Paris.

“Parece que é uma provocação. Será que [Macron] e seus serviços de inteligência não sabem quem foi Lula aqui?”, disse Bolsonaro em referência aos processos de corrupção que o antigo presidente enfrenta.

Lula fez uma digressão pela Europa em novembro que o levou à Alemanha, Bélgica, França e Espanha, onde foi recebido por várias autoridades, no Parlamento Europeu, assim como por Macron e também pelo presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez.

Nos últimos meses, ao mesmo tempo em que a figura de Lula cresce nas sondagens para as eleições de outubro de 2022, Bolsonaro tem dedicado boa parte dos seus discursos à desqualificação do antigo chefe de Estado, que por sua vez mantém uma linha dura de críticas ao atual líder do executivo.

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