Um pequeno grande passo

por Filipa Rodrigues
Paulo RegoPaulo Rego
Paulo Rego

A cimeira virtual sino-americana, que na semana passada juntou Xi Jinping e Joe Biden, terá frustrado as expetativas mais optimistas. Afinal, os sinais de entendimento são poucos e difusos – com  a “bomba” do boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim a pairar… Mas há pelo menos um valor incontornável: haver diálogo.

Durante três horas e meia, os dois líderes com maior impacto no mundo puseram as cartas na mesa: sabem agora melhor o que os divide; o que os pode aproximar… e as fronteiras onde arriscam mesmo colidir.

Surgem alinhamentos no combate às alterações climáticas. O dramatismo da sobrevivência do planeta exige mais – e depressa. Mas, no fundo, o que os separa é o mesmo que os une: a pressão dos interesses económicos e a ideia de que o ciclo do carbono só será extinto se a sustentabilidade for uma oportunidade de crescimento – e não depressão. Por razões diferentes, em estágios de desenvolvimento distintos, pensam de forma semelhante.  

Não falaram disso em público, mas ambos sabem bem qual é o “elefante” escondido debaixo da mesa negocial: a corrida à computação quântica e o domínio da era digital. A IBM anunciou a primeira certificação quântica, capaz de resolver em três minutos uma equação que os computadores de hoje levariam dez mil anos! A escala é inimaginável… E só mesmo a China ameaça neste campo a supremacia norte-americana.

Ainda é cedo para se perceber se Xi e Biden têm convicção pessoal e contexto político para alavancar um novo ciclo, sobrepondo o diálogo à “guerra fria”

Mais sensível é a questão de Taiwan. Na sequência da demonstração de força em Hong Kong, alguns setores em Pequim retomam o debate sobre a anexação militar. Mas Washington vinca a linha vermelha. O único consenso será por isso refrear a tentação independentista, de um lado; contendo do outro o avanço nacionalista.

Ainda é cedo para se perceber se Xi e Biden têm convicção pessoal e contexto político para alavancar um novo ciclo, sobrepondo o diálogo à “guerra fria”. Mas também nada nos diz que não tenham dado um pequeno grande passo para a paz, o multiculturalismo e o desenvolvimento sustentável.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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