“Estou extremamente confiante”

por Guilherme Rego
Mei Mei Wong

Com a 68º edição do Grande Prémio de Macau à porta, o vencedor da corrida de Fórmula 4 do ano passado, Charles Leong Hon Chio, garante ao PLATAFORMA estar “extremamente confiante” de que conseguirá levar de novo a vitória para casa. O piloto local com 20 anos de idade vê este evento como “altamente positivo” para a cidade e também espera que os pilotos de Macau provem a sua superioridade em relação aos do continente.

– Desde os 8 anos de idade que se apaixonou pelo desporto motorizado, passando de fã na plateia a piloto no Circuito da Guia. Como vê o Grande Prémio de Macau?

Charles Leong Hon Chio – Há muito tempo que vários profissionais internacionais vêm a Macau para competir. As corridas de carro assumem um papel de grande importância na promoção da cidade, muitas pessoas de fora conhecem Macau por esta competição, não pelos casinos. Apesar do evento ter sofrido algumas mudanças, o ambiente continua o mesmo. Estas corridas promovem entre os visitantes a imagem de Macau como uma cidade com a situação epidémica sob controlo, pronta a recebê-los. É uma atividade altamente benéfica para Macau.

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– Pelo segundo ano consecutivo os pilotos estrangeiros foram impedidos de competir. Será esta edição do Grande Prémio de Macau um palco para os pilotos locais se exibirem e se darem a conhecer?

C.L.H.C. – Várias pessoas afirmam que o Grande Prémio é agora a “Corrida da Grande Baía”, embora na verdade os nossos adversários sejam pilotos de várias regiões do Interior. No entanto, podemos provar a superioridade dos pilotos de Macau em relação aos do continente.

– Após a vitória de Fórmula 4 no ano passado, está confiante para este ano?

C.L.H.C. – Estou extremamente confiante. Se conseguir vencer outra corrida, espero que essa honra me possibilite inspirar os residentes de Macau a terem uma nova perspetiva sobre a cultura do automobilismo. Atualmente, ninguém na cidade parece defender o valor deste desporto. O Grande Prémio de Macau é um evento altamente positivo. Porque continua então a ser subvalorizado pelo público? A meu ver, o problema está na falta de promoção positiva do desporto. O automobilismo é mais do que isso. Aliás, muito podemos aprender com ele, quer seja a nível comercial ou pessoal. O acelerador e os travões podem servir como uma lição de vida: o risco que se assume ao travar tarde; ou o facto de ao travar mais cedo podermos rapidamente voltar a carregar no acelerador e sermos mais velozes no nosso caminho.

Nascido em Macau, Charles Leong Hon Chio começou a conduzir com apenas 8 anos de idade. Devido ao seu talento e trabalho, estreou-se aos 14 anos na Fórmula 4 e venceu o seu primeiro campeonato em Xangai. Três anos depois, venceu a FIA F4 China e a Fórmula Renault 2017 asiática. Na 65º edição do Grande Prémio de Macau, Charles Leong Hon Chio estreou-se no Circuito da Guia competindo na categoria F3, porém, foi impedido de terminar a corrida devido a um acidente. Foi ainda o piloto asiático mais bem classificado no Campeonato de Fórmula 3 da Ásia com 145 pontos. No ano seguinte, na 66º edição do Grande Prémio de Macau, Charles Leong Hon Chio participou pela segunda.

– Como podemos melhorar na promoção do automobilismo?

C.L.H.C. – Atualmente o Kartódromo de Coloane apenas permite que visitantes acima dos 18 anos e com carta de condução conduzam nas suas pistas. A medida mais fácil de implementar seria baixar o limite de idade, assim como procurar diminuir o ruído nas pistas, com a implementação de veículos elétricos, por exemplo. Com a pandemia, mesmos as aulas de condução de karts foram canceladas no verão, resultando num afastamento entre a população e o desporto e também falta de treino na área. O Governo poderá promover esta atividade entre os jovens com a criação de um museu para o automobilismo e com a promoção deste percurso profissional. O contacto entre a população e o automobilismo profissional promove não só o desporto como profissão, como também ajuda a popularizá-lo.

– Como vão os treinos, preparação física e mental para a competição?

C.L.H.C. – Estou praticamente preparado, mas devido ao pouco tempo de treino que tive, talvez a minha memória muscular tenha sofrido um pouco. Contudo, no futuro espero conseguir evitar certos problemas comuns neste desporto, como a necessidade de procurar patrocínios e o tempo de treino. Temos de possuir um controlo mental forte, especialmente com o avançar da idade e o crescimento das nossas preocupações. Quando é altura de procurar patrocinadores, já não sou tão despreocupado como era, o que de certa forma afeta o meu estado de espírito e capacidade de foco. Desde o início de 2018 que por várias razões fui incapaz de treinar devido à desistência súbita de patrocinadores, afetando a minha performance.

– Estará o automobilismo e outros desportos em Macau a sofrer com falta de recursos e talentos, não conseguindo por isso desenvolver mais atletas profissionais?

C.L.H.C. – O automobilismo é um desporto complexo. Não é possível apenas com base no talento juntarmo-nos a uma equipa e começar a treinar sem quaisquer fundos. Mesmo com apoio governamental, o elevado custo deste desporto obriga os pilotos a procurar individualmente equipas e recursos. Se um condutor conseguir participar com a sua equipa em quatro corridas, a longo prazo a condição do mesmo será muito superior. No entanto, Macau não possui equipas, talentos ou recursos dessa dimensão. Apesar de ser um desporto popular na cidade, não é profissional, ou seja, é difícil para atletas de elite como nós chegar ao topo.

– O que faz do Grande Prémio de Macau um evento tão especial?

C.L.H.C. – A pista, os atletas que se deslocam a Macau todos os anos e o estatuto internacional da corrida.

– Depois de se tornar adulto, qual a maior diferença que sentiu em relação ao automobilismo?

C.L.H.C. – A maior diferença é o facto de agora poder conduzir no Circuito da Guia. Para amantes do desporto motorizado é um momento muito entusiasmante e gratificante.

– Já venceu no Circuito da Guia. O significado do Grande Prémio de Macau muda?

C.L.H.C. – Para mim as corridas são como uma plataforma, um espaço onde aquilo que quero fazer se pode tornar realidade. Espero conseguir usar esta plataforma para provar que os pilotos de Macau também são capazes de ganhar.

– O seu objetivo continua a ser chegar à Fórmula 1?

C.L.H.C. – O mundo sofreu várias mudanças repentinas, mas espero conseguir passar esta paixão à geração seguinte ou mudar de certa forma o sistema do desporto para que este se torne mais lucrativo para os pilotos. Tanto o sonho da F1 como o de fazer a diferença no desporto são objetivos gigantescos, mas espero conseguir concretizar ambos. A direção atual inclui a criação de uma equipa de Esports e de corridas de karts. Quando a situação epidémica acalmar, iremos então tentar implementar algumas mudanças.

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