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Bonga celebra 50 anos de carreira

Foi durante anos e segundo as palavras do próprio, uma espécie de “animador de serviço”, que punha toda a gente a dançar ao som de refrões como “tenho uma lágrima no canto do olho” ou “mariquinha, vem comigo p”ra Angola”. Afinal “pôr as pessoas a dançar é muito importante para fazer passar a mensagem”, diz o artista que ficou na história como um dos primeiros a dar voz à luta de independência de Angola, com o seminal Angola 72. Mas Barceló de Carvalho, assim é o verdadeiro nome de Bonga, antigo atleta do Benfica, que chegou a ser recordista nacional dos 400m, é muito mais que um mero rodapé enciclopédico. Aos 79 anos continua um defensor incansável dos ritmos e dialetos tradicionais do seu país, que tem recuperado, explorado e reinventado numa obra reunida em mais de 3 dezenas de discos e lhe valeu, em 2014, o reconhecimento como Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras de França. Entretanto foi redescoberto por uma nova geração de fãs, que inclui, por exemplo, o ator americano Will Smith, cujos elogios públicos, há dois anos, numa entrevista a uma televisão francesa, catapultaram o cantor angolano para o top de vendas do iTunes.

O que se sente ao atingir uma marca tão simbólica como esta, dos 50 anos de carreira?
Foi uma carreira com altos e baixos, mas sem dúvida mais altos que baixos, por isso sinto como uma vitória retumbante chegar aqui desta forma, com capacidade de continuar a chegar a novos públicos. A mistura de pessoas que hoje vejo nos meus concertos dá-me uma força tremenda para continuar.

Nos últimos anos toda uma nova geração de ouvintes tem redescoberto a sua música…
É verdade, surgiram uns miúdos muito interessados na minha música, que vêm falar comigo e enchem os meus espetáculos. No início fiquei muito admirado, porque nunca tinha tido esse tipo de reconhecimento em Portugal, como aconteceu em França, onde a minha música é muito apreciada. Alegra-me muito que isso aconteça com uma geração que já não viveu o colonialismo e se interessa apenas pela música.

Até o ator Will Smith o elogiou em público já por mais que uma vez…
Isso foi fantástico, foi um daqueles momentos que me deixou com “uma lágrima ao canto do olho”, mas das boas, de alegria (risos).

Curiosamente, a sua música não passa muito nas rádios angolanas, mas mesmo assim continua a ser um artista muito acarinhado pelos seus compatriotas?
Isso é uma sacanagem que alguns dos meus patrícios me fazem, mas o angolano é muito ousado, especialmente no que à música diz respeito, que sempre foi um meio para se poder falar de tudo. Como acontece hoje com alguns miúdos, eu próprio fui censurado por dizer certas coisas. Mas estamos aí para nos continuarmos a bater contra isso. Infelizmente, nós, os africanos em geral e os angolanos em particular, ainda não evoluímos muito no sentido da liberdade, da democracia e da emancipação. As pessoas estão cada vez mais dececionadas. A independência, da forma que foi feita, levou a uma guerra fraticida que ainda hoje mata através da pobreza e da doença e o povo continua a não ser tido nem achado. Nos tempos coloniais criticávamos tudo isso e passados 40 anos continua tudo igual ou pior. É caso para perguntar: valeu a pena?

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