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Forças polacas usam gás lacrimogéneo contra migrantes

Damien Simonart e Ola Cichowlas

Forças da segurança polacas usaram ontem jatos de água e gás lacrimogéneo contra os migrantes que tentavam cruzar a fronteira com a Bielorrússia, o que provocou acusações por parte de Minsk, que Varsóvia tenta intensificar a crise

O governo polaco calcula a presença de entre 3.000 e 4.000 migrantes, muitos deles curdos iraquianos, acampados ao longo da fronteira. Com temperaturas glaciais, eles encontram-se bloqueados entre a pressão das forças bielorrussas e a contenção dos soldados polacos.

A União Europeia (UE) acusa a Bielorrússia de ter orquestrado o fluxo de migrantes nas suas fronteiras com Polónia e Lituânia como forma de vingança pelas sanções impostas, o que é negado por Minsk e pela sua aliada Moscovo.

Desde a semana passada, a passagem de fronteira de Bruzgi-Kuznica, na região leste da UE, é cenário de um confronto, com centenas de migrantes aglomerados.

“Os migrantes atacaram os nossos soldados e oficiais com pedras e estão a tentar destruir a cerca e entrar na Polónia”, afirmou o Ministério polaco da Defesa. “As nossas forças usaram gás lacrimogéneo para controlar a agressão dos migrantes”, completou um comunicado do ministério.

Sete policiais, um guarda fronteiriço e um soldado ficaram feridos nos confrontos, segundo autoridades polacas. A polícia informou que foram usados contra as forças de segurança bombas de efeito moral e gás lacrimogéneo.

A Bielorrússia declarou que instalou um centro logístico na região de Grodno, onde os migrantes podem dormir.

‘Interromper o sofrimento’

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Bielorrússia, Anataoly Glaz, acusou a Polónia de agravar a crise. “Vemos hoje da parte polaca provocações diretas e um tratamento desumano dispensado aos menos favorecidos”, criticou.

A Rússia condenou o uso de gás lacrimogéneo e jatos d’água pela Polónia contra os migrantes, classificado pelo chanceler Serguei Lavrov como “absolutamente inaceitável”.

A comissária de Direitos Humanos do Conselho Europeu, Dunja Mijatovic, que visitou as áreas próximas à fronteira pelo lado polaco, declarou ontem que a situação é “extremamente perigosa”. “Temos que encontrar uma forma de reduzir a tensão, para garantirmos que o objetivo seja interromper o sofrimento”, disse ela, pedindo que as ONGs e a imprensa tenham pleno acesso à fronteira.

Conversa com Alemanha

O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, disse também ontem que deseja evitar que a crise migratória se transforme num confronto. “O essencial agora é defender o nosso país, o nosso povo e evitar confrontos”, declarou ele à agência estatal de notícias Belta.

As declarações foram feitas um dia depois de um telefonema de Lukashenko com a chanceler alemã, Angela Merkel. Ela foi a primeira líder ocidental a conversar com o presidente bielorrusso desde sua polémica reeleição, em agosto de 2020. Lukashenko está no poder desde 1994. De acordo com o gabinete de Merkel, os dois abordaram a ajuda humanitária para os migrantes, que incluem crianças.

“Partilhamos da opinião que ninguém deseja uma escalada, nem a UE nem a Bielorrússia”, disse Lukashenko. Ele também afirmou, no entanto, que tem um ponto de vista “diferente” do de Merkel sobre como os migrantes chegaram à Bielarrússia: o Ocidente afirma que Minsk transportou-os até a fronteira, em retaliação às sanções. 

Esta segunda-feira (15), os ministros das Relações Exteriores da UE concordaram em ampliar as sanções contra o regime de Lukashenko, incluindo na lista pessoas, ou empresas, que estimularam sua passagem na fronteira leste do bloco. O governo dos Estados Unidos também se comprometeu a ampliar as sanções contra Bielorrússia.

Voo de repatriação

A embaixada do Iraque em Moscovo anunciou o primeiro voo de repatriação de 200 imigrantes iraquianos na semana, mas apenas daqueles que desejarem viajar “voluntariamente”.

Muitos afirmam que estão decididos a permanecer, apesar do acesso limitado a alimentos e a produtos básicos.

A UE pediu a interrupção dos voos para a Bielorrússia.

Ontem, a companhia aérea bielorrussa Belavia informou que sírios, iraquianos, afegãos e iemenitas estão proibidos de viajar do Dubai para Minsk. A Turquia impôs as mesmas restrições na semana passada.

Pelo menos 11 migrantes morreram desde o início do grande fluxo para a região fronteiriça, durante o verão local, de acordo com ONGs de ajuda humanitária. Um deles, Ahmad al-Hassan, um sírio de 19 anos que se afogou perto da fronteira, foi sepultado segunda-feira no cemitério da pequena comunidade muçulmana polaca. 

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