Um projeto de produção de vacinas para aquacultura da Universidade do Porto venceu no dia 30 de outubro, em Macau, a primeira competição de ‘startups’ universitárias entre os países lusófonos e a China
O objetivo do projeto vencedor, “ProbioVaccine: Tailor-made aquaculture probiotic vaccines”, é desenvolver vacinas probióticas feitas à medida para peixes de aquacultura.
O segundo lugar foi para a equipa da Universidade Lusófona Guiné, com o projeto “Energia Verde: From nature, with nature, energetic light for all” para instalar painéis solares na região de Gabu, no leste da Guiné-Bissau.
Duas equipas, uma da Universidade Estatal do Rio de Janeiro (UERJ, Brasil) e outra da Guangdong Polytechnic Normal University (China), dividiram o terceiro prémio com projetos de biofertilizante a partir da casca do arroz (Bio Fertilizers: A new solution for rice burning waste) e de produtos para banho com elementos da medicina tradicional chinesa (Fu Yao: Enjoy bathing, Prevent Stroke), respetivamente.
Marco Rizzolio: A adesão foi incrível, assim como a participação dos jovens.
Na fase final do “Desafio 928” (“928 Challenge”), assim chamado por integrar nove cidades da Área da Grande Baía, duas regiões administrativas especiais chinesas e oito países de língua portuguesa, participaram 16 equipas, dez da China, Macau e Hong Kong, duas de Moçambique, duas do Brasil, uma da Guiné-Bissau e uma de Portugal, disse à Lusa um dos coordenadores, Marco Duarte Rizzolio, da Universidade Cidade de Macau (CityU). “Tivemos 780 estudantes registados de 51 universidades. Formaram-se 153 equipas, de cinco a seis pessoas, sendo que algumas universidades tinham mais do que uma equipa”, afirmou Rizzolio no fim do evento, que cofundou o “928 Challenge” com o diretor (“dean”) da Faculdade de Business da CityU, José Alves. A Lusofonia contou com a participação de 43 equipas, segundo o coordenador.
“A adesão foi incrível, assim como a participação dos jovens. Nada foi forçado”, enfatizou Rizzolio ao PLATAFORMA. “Isto comprova que a nova geração de jovens está com fome de empreendedorismo. Querem ser eles próprios a definir o seu futuro profissional. Esta geração tem uma aversão à cultura corporativa, do medo e de trabalho hierárquico em silos”, acrescentou.
Leia mais sobre o assunto em: Plataforma, Grande Baía e sustentabilidade: o futuro em três eixos
Marco Rizzolio: As ideias de negócios tinham que envolver a China e os Países de língua Portuguesa.
Na primeira semana de um ‘bootcamp’, o ambiente de negócios nos países lusófonos e na China foi apresentado aos participantes, que, na segunda semana, puderam desenvolver um plano de negócios, orientado para a sustentabilidade. Nesta fase, “89 equipas entregaram projetos desenvolvidos”, disse, de onde saíram as 16 equipas finalistas.
O primeiro prémio foi de dez mil patacas (cerca de mil euros), o segundo de sete mil (cerca de 700 euros) e o terceiro de cinco mil (cerca de 500 euros).
Além de permitir aprofundar colaborações académicas entre instituições do ensino superior da Grande Baía e dos países lusófonos (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), a competição pretendia identificar projetos de ‘startup’ com potencial para serem implementados e apoiados por investidores de Macau, da Grande Baía ou de países de língua portuguesa e fomentar o desenvolvimento de jovens empreendedores com uma mentalidade global.
Marco Rizzolio: Os chineses estudaram os mercados lusófonos e, de cordo com as suas ideias, escolheram um mercado para vender distribuir os seus serviços e produtos.
Questionado se o objetivo de estabelecer e fortalecer os laços entre os Países de Língua Portuguesa, Macau e China foi cumprido, Marco Rizzolio foi assertivo: “Totalmente, aliás esse era um dos critérios. As ideias de negócios tinham que envolver a China e os Países de língua Portuguesa. Os chineses estudaram os mercados lusófonos e, de cordo com as suas ideias, escolheram um mercado para vender distribuir os seus serviços e produtos. A mesma coisa aconteceu do lado inverso, com as universidades lusófonas, que tiveram de estudar o mercado chinês e mais especificamente o da Grande Baía.” António Trindade, CEO da CESL Ásia e um dos juízes no concurso, enalteceu os projetos apresentados e salientou a importância de promover o empreendedorismo jovem entre Macau, China e países lusófonos.
António Trindade: Isto é extremamente importante para Macau.
“Pudemos ver tanto os estudantes dos países lusófonos como os da China a estudar o mercado uns dos outros e, também dos produtos e serviços, tentando construir a criação de valor numa perspetiva empresarial. Isto é extremamente importante para Macau”, disse António Trindade à Macau News Agency. “Isto cria um propósito que dá uma consequência ao conceito de Macau como plataforma para as relações entre a China e os países lusófonos”, reflete.
Marco Rizzolio: Este modelo é para repetir, sem dúvida.
A CESL Ásia, entretanto, selecionará uma das equipas chinesas participantes neste concurso para estagiar na exploração pecuária do grupo em Portugal. “Estamos a desenvolver programas para definir sustentabilidade e padrões com a União Europeia e universidades em Portugal. Vamos levá-los a participar nesses programas e esperamos que tragam de volta a experiência e a compreensão”, acrescentou António Trindade.
Marco Rizzolio: Não há melhor sítio que Macau para ligar a Lusofonia e a China.
“Este modelo é para repetir, sem dúvida”, assegura Marco Rizzolio. Resta agora, antes de avançar para uma segunda edição, “fazer um balanço com os nossos stakeholders e perceber onde podemos melhorar”, referiu. “É um conceito novo, nunca tinha sido feito. Não há melhor sítio que Macau para ligar a Lusofonia e a China. Temos uma equipa sólida, com muita experiência e uma visão clara, na qual os nossos parceiros também se reveem”, evidenciou.
O concurso teve a organização conjunta da CityU, do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau), da Universidade de Shenzhen e do Instituto de Macau da Universidade das Nações Unidas.
A Área da Grande Baía é um projeto de Pequim que visa criar uma metrópole mundial a partir das regiões administrativas especiais chinesas de Macau e de Hong Kong, e nove cidades da província de Guangdong (Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing), com mais de 60 milhões de habitantes.