Coragem e lucidez

por Filipa Rodrigues
Paulo RegoPaulo Rego*
Paulo Rego

Jorge Neto Valente não é uma voz qualquer. Está longe, como todos, de ter sempre razão; como não está livre de crítica ou de ter muitas vezes sido oligárquico na defesa de agendas próprias ou clientelas. Mas é um homem lúcido – e corajoso. E é preciso ouvir quem diz o que poucos ou ninguém diz. Porque não podem; acham que não devem, sabem que os prejudica. E esse é o problema. Esse beco empobrece o indivíduo, diminui a comunidade; mina o que Macau é – e quer ser.

Em plena sessão solene da Abertura do Ano Judicial, quando o Chefe do Executivo repete que o Governo não admite “qualquer interferência de forças externas nos assuntos de Macau”; onde o procurador Ip Son Sang destaca a importância do “reforço da consciência da defesa da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento do País”… Neto Valente dispara: “A erosão do pensamento crítico, a procura de unanimismo de opiniões e o silenciamento de vozes discordantes impendem o desenvolvimento e o progresso”.

Ser patriota é gostar da Pátria, defendê-la, querer desenvolvê-la. Tudo bem. Perigoso é fazer disso um imperativo moral autoritário

Denuncia: “Os magistrados têm a obrigação de defender a lei e quem é subserviente ao Estado não é um magistrado”.

E explica: “Precisamos de patriotas inteligentes e talentosos, com visão de futuro, capazes de trabalhar em prol do bem comum e pela realização da justiça social – e não apenas daqueles que com subserviência e vistas curtas, apregoam insistentemente o seu patriotismo para se tornarem notados e obterem vantagens para si próprios”. A lucidez é incontornável: ilumina – esclarece.

Leia mais sobre o assunto em: Magistrados têm obrigação de aplicar a lei, diz Neto Valente

A coragem é um murro no estômago: cura – mantém a sanidade. Adoro Macau. Esta mesma cidade, hoje, que é chinesa, que não é revolucionária, que é patriótica, que gosta da China e dela depende. Como certamente também Neto Valente.

Qual é o problema? Ser patriota é gostar da Pátria, defendê-la, querer desenvolvê- la. Tudo bem. Perigoso é fazer disso um imperativo moral autoritário. A China não precisa disso. E isso não serve Macau.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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