Crise em Macau levanta debate sobre auxílio à economia

por Guilherme Rego
Carol Law

Pede-se ao Governo de Macau novos mecanismos de auxílio económico à população e empresas. A Semana Dourada, que costumava ser de grande sucesso económico, devido a um novo surto de casos de Covid-19 – e medidas de segurança apertadas – resultou numa descida a pique no número de visitantes, com zonas turísticas silenciosas e lojas sem negócio.

A receita da indústria do jogo foi fraca, mas pior ainda foi a performance das pequenas e médias empresas. Alguns membros da indústria e da Assembleia Legislativa acreditam que esta situação terá impacto suficientemente grave para causar nova onda de acordos de férias não remuneradas, lay-offs … e até fecho de negócios. Há por isso a expetativa de que o Governo crie soluções mais eficazes no auxílio a empresários e trabalhadores.  

De acordo com os dados do Corpo de Polícia de Segurança Pública, Macau recebeu 1960 visitantes no dia 1 de outubro de 2021, número muito inferior aos 44.000 visitantes durante a Semana Dourada de maio deste ano, ou aos 15.000 visitantes em outubro do ano passado.  

Leia mais sobre o assunto em: Macau tem de ser uma “cidade segura”

Wu Wai Fong, presidente da Associação de Guias Turísticos de Macau, diz que a pandemia afetou “todos os setores relacionados com o turismo”. Durante as férias de verão, no mês de agosto, haviam sido afetados pela onda de casos positivos na comunidade. Contudo, esperava que a situação recuperasse em outubro. Pelo contrário, com o novo surto no final de setembro, a crise parece não ter fim à vista, conta ao PLATAFORMA: “Parece que não acaba, está tudo parado; até o jogo, a restauração, o retalho e os transportes. É difícil não me preocupar quando está tudo interrompido.” 

Muitos guias turísticos, deparando-se com a falta de trabalho, assumiram funções de escritório. Porém, as empresas afirmam agora que já não precisam desses serviços, informando-os que devem regressar apenas quando voltar a haver necessidade de exercerem a atividade de guias turísticos. “Caso a pandemia continue a evoluir, acredito que mais pessoas irão perder o emprego”, alerta Wu Wai Fong. 

Wu Wai Fong: “Temos de conseguir controlar esta pandemia, fazer um bom trabalho e provar ao continente que Macau é um lugar seguro” 

Durante os últimos dois anos, recorda Wu Wai Fang, as seis operadoras na indústria do jogo criaram programas especiais para auxiliar os guias turísticos, tais como “Vamos! Macau!” ou “Passeios, gastronomia e estadia para residentes de Macau”; auxiliando dessa forma a indústria. Contudo, isso não foi suficiente para lhes garantir a sua subsistência. Wu acrescenta: “Agora, outra vez devido à pandemia, até estes programas foram suspensos. Não sabemos o que fazer.” Muitos dos trabalhadores que não conseguiram mudar de carreira são seniores, razão pela qual, mesmo participando em sessões de formação da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, e disponibilizando-se para entrevistas de emprego, não é fácil arranjar trabalho. “Não possuem outras habilitações profissionais”. Por outro lado, “atualmente não há grande procura por mão de obra em nenhuma indústria. Quem os irá contratar?” Muitos estão agora a fazer trabalhos part-time na restauração, limpezas ou vendas. “Resumindo, não possuem rendimento fixo, precisam de um trabalho a tempo inteiro.” 

Confiança e ajuda 

Wu Wai Fong está pessimista: “Ao início tinha esperanças altas no Natal e Ano Novo, mas agora precisamos de voltar a ganhar confiança. Ouvimos dizer que vai abrir tudo; depois já vai fechar… o que faz perder a confiança entre os visitantes retidos em Macau, mas também nos que pensavam visitar a cidade. Não têm coragem, existindo a possibilidade de ficarem retidos, sem poder regressar a casa, preferem não cá vir”, lamenta. 

Leia mais sobre o assunto em: “Adeus Semana Dourada”

“Temos de conseguir controlar esta pandemia, fazer um bom trabalho e provar ao continente que Macau é um lugar seguro. Não acontecerá da noite para o dia, mas se mostrarmos que somos de confiança, os turistas voltarão. Não é altura de fazer promoções para atrair turistas; o mais importante é a segurança, para que percebam que podem visitar a cidade sem preocupações. Dessa forma com certeza escolherão Macau como destino.” 

Leong Sun Iok, deputado à Assembleia Legislativa, falou recentemente com vários funcionários de casinos despedidos, tendo muitos outros acordado férias não remuneradas ou redução de salário. Dados oficiais revelam que, entre maio e junho deste ano, a taxa de desemprego chegou aos 3,7 por cento, número que em apenas dois meses iguala à taxa anual. Contudo, na opinião de Leong, isso “não mostra verdadeiramente” o impacto da nova onda da pandemia. 

Leong Sun Iok: “O Governo precisa de promover uma quarta ronda de medidas de auxílio económico” 

Sempre que surgem novos casos positivos, lamenta, o Governo anuncia de imediato o encerramento de locais de entretenimento e lazer, salões de estética, entre outros. “Anuncia o seu encerramento sem oferecer qualquer apoio. Mas no estrangeiro, quando os governos implementam medidas de encerramento, são também criados mecanismos de auxílio aos negócios e trabalhadores afetados. Macau não os possui.”  

Leong Sun Iok lembra que os empresários, não podendo contrariar as ordens do Governo, continuam a pagar despesas, pelo que precisam de mecanismos de ajude. Sugere que o Governo faça alguns ajustes às suas políticas de emprego; por exemplo, dando prioridade a residentes locais em projetos da Administração, e incentivando empresas privadas a contratarem trabalhadores locais. “As indústrias relacionadas com o turismo, tais como as do jogo, vendas de lembranças, retalho e restauração, são as mais afetadas. Sem turistas enfrentam grandes dificuldades. O Governo precisa de promover uma quarta ronda de medidas de auxílio económico”, defende o deputado. 

Entretanto, o Governo anunciou oito medidas de auxílio a pequenas e médias empresas, no sentido de aliviar alguma da pressão económica. Estas medidas incluem bonificação de juros nos créditos bancários para pequenas e médias empresas, aligeiramento das condições de pedido de empréstimos sem juros para as PME, ajustamento do reembolso de empréstimos sem juros, incentivo aos bancos para ajudarem as empresas no reembolso de empréstimos, incentivo à oferta de benefícios respeitantes às taxas cobradas pelos adquirentes, incentivo aos proprietários de estabelecimentos comerciais na redução das rendas, e prestação de apoio aos operadores e às pessoas desempregadas. Existem opiniões divergentes no que diz respeito a estas medidas de auxílio e várias vozes se levantam no sentido de se discutir soluções mais eficazes para garantir a recuperação da economia de Macau, num diálogo que, defendem, deve contar com a participação de toda a população.   

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