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Terrorismo de Estado

Paulo Rego

O New York Times contou recentemente em detalhe o assassinato de Mohsen Fakhrizadeh, cientista-chefe do programa nuclear iraniano: um robot, uma metralhadora, e a inteligência artificial (incluindo reconhecimento facial) executaram o plano telecomandado pela Mossad – em colaboração com a CIA – com luz verde dada na sombra por Benjamin Natanyahu e Donald Trump. Um assassinato de Estado, com contornos de ficção científica.  

Estes atos de guerra preventiva levantam inúmeras questões de i(racionalidade) e de (i)legitimidade. Quem decide quando, como, em que circunstância… pode Putin, Erdogan, Biden, ou seja quem for, ordenar ações deste calibre? Fakhrizadeh não era terrorista, criminoso, nem louco… mas sim um quadro institucional metido na lista negra nuclear. Façamos o exercício em espelho: um líder asiático, árabe ou africano acha que a Austrália, o Paquistão, a Inglaterra ou os Estados Unidos são perigosos… Pode mesmo telecomandar assassinatos?  

Muitos a ocidente festejam a competência sionista. Mas Telavive sabe bem onde falhou: o robot e a metralhadora deviam ter implodido, sem deixar rastro – o que não aconteceu. Por isso tudo se sabe. Quer dizer… e por existirem jornais como o New York Times, que expurgam os podres do próprio regime. 

A tese da guerra preventiva já teve episódios dramáticos como a escabrosa mentira nuclear que justificou a invasão do Iraque. O Irão, centro da civilização persa – património imaterial da humanidade – vive hoje um regime teocrático islâmico que o ocidente teme e rejeita. Mas será mesmo mais perigoso do que a Arábia Saudita, o Paquistão ou a Coreia do Norte? Assassinatos destes resolvem o quê? Impedem a proliferação ou deitam achas para a fogueira nuclear? 

A inteligência artificial militarizada estará amanhã ao dispor de países grandes e pequenos; líderes ponderados, loucos ou radicais. E a ideia de metralhar por telecomando cientistas, pensadores, decisores de mundos diferentes do nosso, já não é ficção – é um filme de terror. Se a moda pega, ainda sai o tiro pela culatra.  

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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