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“Euromilhões, a criar excêntricos de um dia para o outro”

Nelson Silva*Nelson Silva

Diariamente na televisão, na rádio ou na internet, somos bombardeados/as com anúncios e slogans que aliciam para o quão fácil é ganhar dinheiro com pouco ou nenhum esforço.

Num só dia de navegação da internet, são dezenas os pop-ups que nos dizem “e esta sexta o que faria com 130 milhões?” ou “torne-se apanhador de sol semi-profissional: jogue na raspadinha pé-de-meia e habilite-se a 2000 euros por mês durante 12 anos”

Também crianças e jovens não estão imunes a este tipo de anúncios. Enquanto esperam para ver no youtube um vídeo de um tutorial do Minecraft ou de uma música da Carolina Deslandes, cruzam-se com este tipo de anúncios, por exemplo, da Betclic que lhes dizem “Freebets: liberta logo o que ganhas”.

Todos estes anúncios têm em comum o facto de se referirem a jogos e apostas e, claro está, o facto de passarem a mensagem de que esta é uma forma de ganhar muito com pouco e em pouco tempo.

O único alerta que estes anúncios fazem vem com as famosas letras pequeninas e indicam que estes são jogos para maiores de 18 anos, o que é no mínimo contraditório visto que os anúncios passam nas televisões à hora em que menores estão a assistir e antecedem conteúdos online que se destinam maioritariamente a crianças e jovens.

Não podemos compactuar com esta exposição das pessoas a este tipo de conteúdos. O nosso país tem de reconhecer a existência de problemas de adição associados ao jogo, que tornam muitas vezes esta atividade numa verdadeira patologia clínica e problemática social.

Não podemos continuar a assobiar para o lado quando há estudos que nos dizem que somos o país da Europa onde mais dinheiro per capita se gasta em raspadinhas, são 160 euros por ano por cada português, mais do dobro da média europeia.

Este problema exige medidas urgentes!

Em primeiro lugar, é preciso conhecer melhor o problema do jogo patológico nas raspadinhas para perceber algumas causas do problema, combatê-las e preveni-las. Precisamos de perceber o impacto e magnitude do jogo patológico associado às raspadinhas, um dos nossos maiores problema de jogo.

Em segundo lugar, sendo já conhecidos os problemas aditivos associados ao jogo e apostas no geral e o impacto da publicidade nestes problemas, é preciso restringir a publicidade a jogos e apostas, na televisão e na rádio de forma a que não haja promoção desta atividade em períodos em que a audiência de crianças e jovens é previsivelmente maior. É igualmente importante reforçar a literacia dos consumidores sobre os riscos do jogo e que os anúncios de jogos e apostas incluam a advertência para os riscos de adição do jogo e das apostas.

Numa altura de pandemia em que tantas pessoas perderam as suas fontes de rendimento, não podemos permitir que se deixe de passar a ideia de ganho fácil associado ao jogo. Temos de proteger crianças, jovens e adultos e atuar na prevenção dos riscos que podem incluir depressão ou até suicídio.

*Deputado do PAN

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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