Os beneficiados da guerra no Afeganistão

por Guilherme Rego
David Chan

Finda a guerra no Afeganistão, quem foram os beneficiados?

Em dezembro de 2001, os EUA tiraram o poder aos Talibã e George Bush declarou com entusiasmo o fim deste grupo. A revista Time até publicou uma capa sobre os últimos dias dos Talibã. Agora, 20 anos depois, os americanos abandonam o Afeganistão com medo, tendo as forças talibã reconquistado o controlo do país. Uma força de guerrilha de um dos países mais pobres derrotou o inimigo mais forte do mundo. Os Talibã fizeram história, porém, lutar é fácil, difícil é consolidar o poder. Daqui para frente, esse será o desafio.  Passemos então aos beneficiados da guerra do Afeganistão.

Por razões históricas, a Rússia continua a ser um tema sensível no Afeganistão, visto que algumas das atuais forças talibã lutaram contra a União Soviética. Apesar de algum receio de ataques terroristas, a Rússia viu uma melhoria no ambiente geopolítico desde a retirada dos EUA. O país saiu beneficiado e poderá até estabelecer relações diplomáticas com os Talibã num futuro próximo.  

O que mais irrita os americanos é o Irão. Todas as guerras americanas parecem acabar por beneficiar esta nação. O Iraque era o maior inimigo do Irão durante a era de Saddam Hussein. Com a guerra no Iraque, que levou ao enforcamento deste líder, os EUA acabaram por ajudar o Irão. Depois, o maior obstáculo para os iranianos era a presença americana no Afeganistão, mas a derrota trouxe alegria ao país, que já organizou negociações de paz com os Talibã. É impossível os EUA não estarem furiosos. O Irão é o maior inimigo americano no Médio Oriente, porém, os resultados de ambas as guerras foram favoráveis ao país. Saíram beneficiados da guerra no Afeganistão.

A Turquia parece estar ocupada. Quando os EUA retiraram as tropas, todos os países da NATO fizeram o mesmo, menos a Turquia. A embaixada foi inicialmente transferida para o aeroporto, e novamente para Cabul. A derrota americana trouxe uma oportunidade para o país, que é a única nação muçulmana da NATO. Os Talibã convidaram-nos a continuar a operar no aeroporto de Cabul, apesar de alguma apreensão inicial. O que é certo é que a Turquia procura alargar a sua influência na Ásia Central. Enquanto os EUA lutam, a Turquia é outro dos beneficiados da guerra do Afeganistão e vai seguindo os seus passos à procura de um lapso. O mesmo aconteceu durante a guerra do Iraque e da Síria, porque não haveria de se repetir no Afeganistão? 

Para terminar, o Estado Islâmico é o maior vencedor, agora que surgiu um grupo ainda mais radical que a Al-Qaeda, inimigos dos EUA e dos próprios Talibã. O mais irónico é que quando os EUA inicialmente retiraram o poder aos Talibã, os bombardeamentos no Afeganistão causaram não só divisões entre estas forças, como também fizeram crescer o sentimento antiamericano. Contudo, em comparação com este movimento mais radical, os Talibã parecem ser mais moderados, mas foram os EUA que deram vida a estes inimigos que agora lhes fazem a vida negra.  

*Editor chinês do PLATAFORMA

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