Velhos sonhos, realidade urgente

por Guilherme Rego
Paulo Rego*
Paulo Rego

A conquista de espaço, em Hengqin, era um velho sonho das elites de Macau, que no tempo de Edmund Ho chegaram a negociar em Pequim a compra de parte – ou o todo – da Ilha da Montanha. Ambição, essa, travada por Cantão, capital política do sul, que sempre quis o investimento de Macau; contudo, sob a sua condução política. Está encontrado o caminho do meio: Macau vai ganhar terreno, e terá de pagar por isso. Não vai mandar, mas participa na gestão, integrada em fóruns regionais sob a égide do Governo central – e tutela pessoal do Presidente Xi Jinping

Publicamente em Hong Kong, mais em surdina em Macau, muita gente teme que a integração regional seja sinónimo de perda de identidade e autonomia. Em Cantão, a zona económica especial da Grande Baía é vista como oportunidade para maior influência económica e política, a nível nacional e internacional. Já em Pequim, esta janela aberta para o mundo é gerida com pinças, com receio de que a exposição a ocidente crie fissuras no regime. A obsessão com o exemplo da Perestroika, na antiga União Soviética, conduz a narrativa do Partido Comunista Chinês, sempre de olho no farol externo que ilumina o perigo interno. 

A informação é gerida a conta gotas e as decisões rodeadas de cautelas. A ideia agora anunciada de que serão construídas cercas numa extensão de pouco mais de 100 quilómetros quadrados, expõe o conservadorismo com que o regime protege o Primeiro Sistema dos “vírus” do Segundo. Mas anuncia também uma zona alargada de livre circulação de bens, pessoas e capitais, a partir das regiões autónomas; e de um sul focado no horizonte internacional. É a velha história do copo meio cheio ou meio vazio. Falta muita coisa … mas é inegável que está tudo menos vazio. 

O que mais falta faz a Macau é ter uma ideia própria, ser líder da sua própria circunstância, negociar a sua oportunidade e não se contentar com a agenda de todos os outros. Há medos, compreensíveis. Mas também oportunidades, mais que óbvias. Se Macau não fizer a sua parte está depois condenada a queixar-se, por manifesta incapacidade de influência. 

*Diretor-geral do PLATAFORMA

 

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