A mentira do Greenwashing

por Guilherme Rego
Nelson SilvaNelson Silva*

Greenwashing é uma palavra que, ultimamente, tem sido usada a torto e a direito como ataque político. Mas o que é o Greenwashing e será que isso é bom para a sociedade?

O mundo está a mudar! A iminência dos impactos das alterações climáticas, a escassez alimentar ou a escassez de água em várias regiões são consequências que se sentem diariamente e que fizeram com que milhões de pessoas exigissem respostas a uma só voz. 

Isto fez com que os vários governos tomassem várias medidas para combater as alterações climáticas, bem como levou à adesão de várias empresas multinacionais a esta causa. O que acabei de escrever até seria bom que fosse verdade…só que não.

O que acabou de facto por acontecer foram governos a tomarem medidas que iam ao encontro de um aparente combate às alterações climáticas para acalmar a opinião pública, e as empresas tomaram medidas na mesma linha, de forma a poderem agitar a bandeirinha da preocupação ambiental e, assim, manterem-se relevantes.

É a isto que chamamos de Greenwashing. E poderá perguntar o leitor: “Mas qual é então o problema?”. O problema não é apenas um. Vejamos, o Greenwashing é uma estratégia política e comunicacional que serve única e exclusivamente para que a sociedade pense que algo está a ser feito, quando na verdade não está. O que acaba por acontecer é que a opinião pública, na grande maioria das vezes, não tem na sua posse informação suficiente para conseguir distinguir as medidas eficazes das medidas aparentes e acaba por esfriar as suas reivindicações no âmbito das alterações climáticas. Os governos respiram de alívio porque podem voltar ao seu dia-a-dia normal, a agradar aos monopólios e interesses económicos, normalmente poluentes. E aqui reside o grande perigo do Greenwashing. É através do movimento da opinião pública que muitas vezes a nossa sociedade evolui, porque obriga os governos a tornarem algo uma prioridade; porque se existe algo que os Governos, que são dominados pelos partidos políticos, temem é a “guilhotina” eleitoral. Sempre que a sociedade se mexe, a sociedade evolui. Esta é a grande premissa.

O Greenwashing mais não faz do que esconder a falta de ação. Tomemos o caso português como exemplo. Precisamos urgentemente de reduzir as emissões de CO2 no nosso país para conseguirmos cumprir os acordos internacionais e, por isso, o Governo anunciou uma estratégia para a energia solar de forma a auxiliar esse objetivo, através da instalação de mega centrais solares. Ora, esta medida por si só é positiva, mas será que é eficaz ou será apenas Greenwashing? Uma pergunta fácil de responder: neste caso sim, é apenas Greenwashing. Se o Governo tem de desflorestar grandes áreas para avançar com a instalação destas centrais, então está a destruir uma boa parte da solução que poderia ajudar a persecução do objetivo. Mas como as árvores e florestas já andam por aí, o Governo não pode chamar para si o crédito de estar a fazer alguma coisa. Depois temos outro prisma: enquanto estas centrais são anunciadas e construídas, o mesmo Governo atribui mais de 500 milhões de euros ao setor dos combustíveis fósseis, contra os 150 milhões das energias renováveis. Então se um Governo quer apostar nas energias renováveis não faria sentido inverter os investimentos? Claro que sim, mas se o Governo apenas quer aparentar fazer alguma coisa, então isso é sempre Greenwashing. 

Neste momento, e de acordo com o último relatório do IPCC, já ultrapassámos o ponto de não retorno, falhando completamente o grande objetivo do acordo de Paris que por si só já era tardio. Por isso sim, temos de avançar com medidas eficazes de mitigação das alterações climáticas, mas temos desde já de avançar com planos de adaptação do impacto das alterações climáticas. Precisamos de preparar agora o nosso território porque senão será tarde demais. E quanto ao leitor não sei, mas pessoalmente não quero ter de chorar vítimas sabendo que podíamos ter feito mais.

*Deputado do PAN

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