Início Macau “A melhor arma que temos é a vacinação”

“A melhor arma que temos é a vacinação”

Paulo Rego

Mónica Pon, vice-presidente da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa, especialista em Medicina Interna e Fellow da Academia Médica de Macau, lança o alerta, lança o alerta: “As pessoas têm que se consciencializar de que o combate à Covid-19 passa pela vacinação”. Apesar de ter sido dos primeiros países e territórios com acesso à vacina para toda a gente, a 9 de fevereiro, cerca de 60 por cento da população ainda não tem a vacinação completa. Decisão essa que, sendo voluntária, encerra riscos não só individuais, face aos riscos da doença, mas também para a saúde pública e toda a comunidade: “O problema é que ninguém estará seguro enquanto todos não estivermos seguros”. 

– Macau teve muito cedo acesso às vacinas; contudo, a adesão popular é ainda fraca, mesmo após a recente campanha na sequência dos últimos quatro casos de infeção. Sendo a vacinação voluntária, o que se pode explicar às pessoas sobre as suas opções individuais e coletivas?  

M.P. – Até à data, os estudos têm revelado que todas as vacinas são seguras e eficazes. O risco de ocorrência de efeitos adversos graves é raro e maioritariamente não são fatais. As pessoas têm que se consciencializar de que o combate à Covid-19 passa pela vacinação. Apenas a decisão individual para se vacinar poderá conduzir ao fator protetor coletivo. No caso desta pandemia, vacinar-se é um dever cívico. Dito isto; é preciso estar consciente de que a vacina não confere 100 por cento de proteção mas os números confirmam que nos vacinados as infeções são menos graves 

– A vacinação de jovens a partir dos 12 anos de idade avança em vários países, mesmo perante alguns riscos anunciados em sistemas imunitários ainda não maduros. Qual é o consenso clínico nesta matéria e que conselhos se podem dar aos pais?  

M.P. – Com o surgimento da variante Delta, verifica-se uma alteração na incidência de casos de infeção em jovens. O número de jovens que necessitam de internamento, mesmo em unidades de cuidados intensivos, aumentou. Os estudos publicados sustentam que a vacina é segura neste grupo etário e é útil para a sua proteção. Por outro lado, sendo os jovens uma possível fonte de transmissão a membros mais vulneráveis da família – ou da sociedade – a vacinação vai cimentar o muro de defesa que temos de construir para controlar a pandemia. Os efeitos secundários que são evocados para recusar a vacina , como o caso da miocardite, são raros e quando ocorrem são casos geralmente ligeiros e reversíveis. 

– Muitos países estão em pleno desconfinamento. Há razões clínicas para isso; ou é a pressão económica e psicossocial a exigir o regresso à normalidade?  

M.P. – Quando se lida com dois valores que se opõem, a valorização de um é o agravamento do outro. Falamos neste caso de Confinamento-Lockdown vs Desconfinamento e o regresso progressivo á “normalidade” . 

Talvez por defeito profissional, sou mais sensível ao controle da pandemia e tenho algum receio de que alguma precipitação possa levar a andar para trás. Contudo, estou consciente dos efeitos nefastos, não só para a economia e sobrevivência das pessoas, mas também no próprio sistema de Saúde, que deixa para trás outros tratamentos e cirurgias pela prioridade de meios deslocados para o combate à pandemia de Covid-19. Penso que cada caso terá de encontrar o seu ponto de equilíbrio e segurança e vemos que países diferentes têm optado por soluções diferentes. Isto é tudo novo e ninguém tem a solução ideal. A vacinação é indiscutivelmente uma arma importante para desconfinar. 

– Há ainda países com dinâmica viral preocupante, mesmo com a vacinação em massa. A variante Delta explica esse recuo? Ou são os comportamentos sociais e os cuidados de saúde ainda inadequados? Temem-se outras variantes – e mais perigosas – no futuro?  

M.P. – A variante Delta não é uma surpresa para os virologistas. Não é a primeira pandemia viral e… não será certamente a última. Sabemos que a evolução possível nestes casos é haver surtos recorrentes, devido às mutações (é o vírus a fazer o seu papel), até que se torne menos agressivo e passe a “endémico”, entrando na coleção de vírus com os quais vivemos e lidamos com os programas de vacinação anual que hoje praticamos. Quanto mais eficaz e célere for o nosso combate, menos oportunidade damos ao aparecimento de variantes e mais depressa ultrapassamos o confinamento de forma segura. A melhor arma que temos, neste momento, é a vacinação. 

– Haverá outras formas de combater a pandemia, para além da vacina? Ou teremos de repetir ciclicamente a vacinação em massa? 

M.P. – Na luta contra a Covid-19, o primeiro passo é a prevenção da sua transmissão com as medidas sanitárias impostas, como o uso de máscaras, lavagem das mãos e distanciamento social e acima de tudo atingir uma taxa de vacinação que permita atingir a imunidade de grupo. O outro braço na luta contra a doença é a procura exaustiva de fármacos que sejam eficazes na cura e na redução das sequelas causadas pela infeção, que sabemos atualmente persistir no tempo, o chamado long Covid. 

– A imunidade de grupo parece possível, em breve, em várias países como Portugal. Mas em muitos outros o acesso à vacina é ainda escasso. Essa disparidade compromete o combate à pandemia de Covid-19, mesmo nos países que avançam primeiro?  

M.P. – Essa disparidade de acesso às vacinas apenas expõe a realidade assimétrica deste mundo. Em alguns países já se fala, inclusive, na administração de uma terceira dose da vacina, quando apenas 15 por cento da população mundial tem a vacinação completa e quase 30 por cento tem uma só dose da vacina. O problema é que ninguém estará seguro enquanto todos não estivermos seguros. Manter reservatórios para o vírus elaborar mutações e voltar a atacar, poderá ser catastrófico para todos. 

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