“Economia tem de crescer de forma completamente diferente”

por Guilherme Rego
Plataforma com Lusa

O ministro do Ambiente português defendeu esta segunda-feira que chegou a altura de desinvestir na produção de combustíveis fósseis, alertando que construir o futuro com instrumentos do passado vai resultar no desaparecimento da espécie humana. 

João Matos Fernandes comentava à agência Lusa o sexto relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado na segunda-feira, em que os cientistas preveem que a temperatura global subirá 2,7 graus Celsius em 2100, se o ritmo atual de emissões de gases com efeito de estufa se mantiver. 

Para o governante, este relatório tem “uma grande novidade”, que é o ritmo a que o aquecimento global está a acontecer e as consequências que este provoca. 

“Sendo verdade, e é verdade, [o relatório] vem no tempo certo porque estamos a três meses da Conferência do Clima”, seis anos depois da cimeira de Paris, “e é o tempo de o Mundo assumir o compromisso que a Europa já assumiu e no qual Portugal liderou que é o de sermos neutros em carbono em 2050”, salientou. 

Para o ministro não há alternativa: “eu direi que mais do que salvar o planeta é salvar-nos a nós próprios como espécie. Nós, de facto, não conseguimos suportar este aumento de temperatura e aquilo que provoca”. dia a dia, com os fenómenos extremos que está também a condicionar”. 

Como tal, defendeu que “a economia tem de crescer de forma completamente diferente e com investimentos que sejam focados na sustentabilidade com a certeza de que esses investimentos vão provocar, se calhar, ainda mais riqueza do que os investimentos tradicionais e emprego mais qualificado”. 

“Este é o tempo de parar de explorar e de investir na produção de combustíveis fósseis”, advogou o ministro, lembrando o caminho que o país tem feito neste sentido. 

“Portugal tem feito um caminho que, obviamente, tem que ser sempre acelerado, não estando isento de falhas, mas não só no compromisso, fomos os primeiros do mundo a dizer que vamos ser neutros em carbono em 2050, como nos investimentos que são consequência desse compromisso”, salientou. 

A este propósito, lembrou que 38% dos investimentos previstos no Plano de Recuperação e Resiliência são dedicados à ação climática, e recordou o que o país tem feito para a redução dos gases com efeito estufa, como a compra de 700 autocarros de “elevada performance ambiental”, os investimentos feitos nos Metro de Lisboa e Porto e a adaptação no litoral, nos mil quilómetros de rios e de ribeiras recuperados apenas com soluções de base natural. 

Recordou ainda o apoio que está a ser dado às famílias, avançando que quase 17 mil já apresentaram candidaturas para tornarem os seus edifícios mais eficientes do ponto de vista energético. 

 “É inevitável que o Estado tome as decisões certas e faça os investimentos certos, mas isto não vai lá sem o esforço de todos”, deixando de usar combustíveis fósseis, plástico de uso simples, o petróleo, “reduzir muito” as embalagens, beber água da torneira e utilizar os transportes públicos. 

“Não nego que tem de haver aqui um pequeno sacrifício da parte de cada um de nós, porque construir o futuro com os instrumentos do passado já sabemos o que é que daí vai resultar: a espécie humana vai desaparecer do planeta”, rematou João Matos Fernandes. 

O professor universitário Filipe Duarte Santos, especialista em ambiente, alertou também para a urgência de descarbonizar a economia mundial devido às alterações climáticas, que vão afetar especialmente a região onde se insere Portugal. 

Investigador e especialista em ambiente e alterações climáticas, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Filipe Duarte Santos comentou, em declarações à Lusa, as conclusões do sexto relatório do IPCC. 

Filipe Duarte Santos evidencia que a principal preocupação é a constatação de que há uma aceleração do aquecimento global, que deve chegar aos 1,5ºC já em 2030. 

Sublinha ainda que o relatório refere duas regiões como das que serão mais afetadas, uma o ártico, onde as temperaturas vão subir muito mais do que a média global, e a região do mediterrâneo, incluindo a Península Ibérica, onde a temperatura já aumentou 1,5ºC em relação à época pré-industrial. 

“Na região mediterrânica a precipitação média anual tem diminuído e isso não são boas notícias, porque há impactos nos recursos hídricos e na agricultura, entre outros setores”, disse à Lusa. 

O investigador reconheceu que a Europa tem liderado o processo de descarbonização da economia mundial, mas lembrou que o problema do aquecimento é global e que por isso é preciso que todos os países contribuam. 

E se os Estados Unidos ou a China estão a elaborar planos, economias como a Índia vão precisar de ajuda para enfrentar o aquecimento global, disse o professor. A próxima cimeira mundial do clima, em Glasgow, é importante porque é “mais uma oportunidade” para se tomarem decisões, concluiu. 

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