O medo

por Filipa Rodrigues
João MeloJoão Melo*

“Viva a redentora, a doce idiotia que nos protege, a todos, dos golpes mortais da Realidade – da Realidade que sobra das fraldas demasiado curtas da nossa desejada incapacidade para nos conhecermos (…) Somos todos peritos na difícil arte da idiotia, treinados na escola do nosso próprio medo em o não sermos. Todos nós o somos, todos nós os saudáveis, os normais, os respeitáveis cidadãos da imbecilidade, trazemos, por dentro, amordaçada, a idiotia que os idiotas trazem por fora”.

Andei pelo sul da China no último trimestre de 2019. Na passagem de ano encontrava-me em Portugal, passando pessimamente com que o julguei ser uma gripe de caixão à cova. Em Janeiro de 2020 sucederam episódios bizarros de saúde entre familiares próximos, num caso houve sintomas graves até hoje sem explicação médica. Tão subitamente como chegaram os sintomas partiram, todos recobraram mas desde Fevereiro desse ano estou diferente, ganhei intolerância ao glúten, uma resposta imunológica do organismo, além de sequelas peculiares. Nem tudo é mau, há um ano e meio que não tenho uma gripe, uma situação inédita para quem apanha várias por ano, nem sequer uma constipação, o que é verdadeiramente extraordinário. Em Março surge o primeiro caso relatado de morte por covid em Portugal. Nos meses seguintes falou-se imenso e de modo confuso sobre a doença. Familiarizado com práticas orientais desde cedo passei a usar máscara em locais fechados, contra as indicações da OMS e as do governo português que as seguia. Nem vou mencionar o estigma social que me causou senão não saía daqui.

No meio da enxurrada informativa acerca da mortandade consegui entender que o covid actua no sistema imunitário. Aos poucos formei a suspeita de que embora o sofrido no início do ano não encaixasse no timeline oficial do covid, os sintomas indicavam uma forte probabilidade de exposição ao vírus. Entrementes não fui vacinado e vai-se passando a ideia de que os anticorpos tendem a desaparecer, ainda assim resolvi realizar um teste serológico; acusou a presença de anticorpos cinco vezes acima do valor de referência. Terei sido infectado recentemente apesar de todos os cuidados e não sendo propriamente novo mantive-me assintomático? É possível, todavia parece-me mais lógico pensar que resulta do que passei no início de 2020, até pelas sequelas ainda presentes originárias dessa época. O sistema imunológico de cada pessoa é único, no meu deduz-se que mantenho anticorpos há um ano e meio. Do que se sabe sobre o coronavirus significa que estou imunizado. Se estou imunizado para que preciso de vacina? Aqui começam os problemas. 

Em primeiro lugar, um dia depois de receber os resultados telefonaram-me do laboratório; o médico responsável falou comigo, disse que tinha havido um engano, foi incapaz de o esclarecer. Atónito perguntei-lhe se os novos resultados significavam que tinha anticorpos, embaraçado respondeu que não era razoável deduzir isso… nem o contrário. Percebendo que não retiraria da conversa qualquer avanço no conhecimento, desliguei. Só no silêncio meditativo após a chamada notei que ficou a martelar-me no espírito um refrão que ele se focara em repetir sem disfarçar a inquietude: “destrua esses resultados, apague o email que lhe enviámos”… Gastei dinheiro num exame para me aclarar, fiquei com mais dúvidas. Pode ter sido só um desleixo, um azar que um familiar que trabalhou no ramo 20 anos diz nunca ter sucedido (já houve trocas de amostras, jamais resultados alterados), mas não há volta a dar, agora também suspeito que não valerá a pena repeti-lo noutro laboratório, quiçá existem condicionamentos à divulgação de determinados resultados e não pretendo gastar mais dinheiro a alimentar a minha dúvida. Desejava ter um fundamento científico para, por exemplo, escrever este texto, infelizmente não tenho, sou mais um a debitar suposições.

Vou afirmar provavelmente uma barbaridade mas julgo que o melhor meio de desenvolver anticorpos é ter contacto com a doença; essa é a razão porque posso morrer de muita coisa, não de tuberculose visto em criança ter contactado com o meu avô tuberculoso. Nunca me deram a vacina BCG porque sempre acusei positivo para o bacilo; igualmente nunca desejei ter contacto com o covid mas parece que já tive, logo não pretendo ser vacinado, o que levanta questões curiosas como a de me acusaram de “negacionista”… Numa época em que os políticos comunicam em 240 caracteres no Twitter, as discussões atingiram o redutor ponto de simplesmente se ser a favor ou contra qualquer coisa. Não sou contra a vacinação, cada um leve o que quiser, sou contra a obrigação de EU levar uma vacina, sou contra a discriminação de quem não a leva. Não é nada que não suspeitasse, afinal escrevi-o aqui em Agosto do ano passado https://www.plataformamedia.com/2020/08/31/big-brother/ “aposto que quando a vacina estiver disponível a seguir tornar-se-á obrigatória em alguns países. Será ilegal não estar vacinado, e pior, circular é um crime grave que põe em risco a comunidade. Sem poder sair, o prevaricador passa a viver clandestino, numa espécie de prisão domiciliária.” Pois, uma coisa coisa é perceber o que vai acontecer e outra diferente viver o acontecimento; é fácil pensar no cenário e lixado sentir na carne. Quem tem anticorpos teoricamente está imune mas não lhes chega, só interessa juntar o gado e vaciná-lo a torto e a direito. Triste metáfora em que nos tornámos, nas mãos de meia dúzia de laboratórios, a parte visível de quem lucra com a pandemia…  

“O Medo constitui talvez o instrumento privilegiado de subjugação (…) A estranha eficácia desse artifício, a frequência com que é usado, e a importância crucial que parece ter em todas as instâncias da organização social, constitui, pelo menos aparentemente, um dos indícios mais esclarecedores do grau de primitivismo, do estado realmente pré-histórico de evolução em que todos nós, de uma maneira geral ainda hoje nos encontramos. Onde a razão não chega – e ainda hoje não chega praticamente a sítio nenhum, apesar das aparências – chega certamente o Medo”

O covid eclipsou-se das notícias. Hoje 24 sobre 24 horas somos obsessivamente massacrados pelo substantivo “vacinação”. A vacinação impede a completa erradicação da pandemia de covid? Não, novas variantes vão aparecendo, vacinados apanham a doença; suponho que seja um pouco como a gripe, todos os anos se leva vacina, é um inferno que veio para ficar. Então qual é o objectivo da vacinação obrigatória? Excluindo teorias da conspiração, em essência o objectivo não é sanitário, isso é a consequência; o objectivo é político, transmitir “segurança” para que a economia volte a funcionar como dantes. A saúde pública e a economia estão interligadas porém esta ligeira nuance faz toda a diferença: estamos a ser chantageados numa cadeia de chantagens que parte do topo da pirâmide até à base. Ninguém está preocupado com a MINHA saúde em particular, e sim com a economia que inclui despesas com uma cama na UCI para a eventualidade de lá ir parar. Ao mesmo tempo as outras doenças podem esperar. Quase todas as vacinas têm alguma eficácia com duas doses, já recomendam a terceira, outras não são eficazes contra certas variantes, a OMS não recomenda as vacinas em crianças (o que é estranho, se é melhor estar vacinado, qual será o problema?) enfim, a realidade é que isto se tornou um circo de horrores sem fim à vista. Mas vão-nos inculcando uma realidade alternativa, uma onde é “mais seguro” levar várias doses e já agora, de determinados laboratórios. No ocidente a russa não presta, a chinesa não presta…

Tal como 99% da população não percebo nada de vacinas e acho o cúmulo da ironia ter de assinar um termo de responsabilidade por assumir tomar algo que nem sonho o que é. Depois, perguntando a pessoas que fizeram questão de não levar a vacina da Astra Zeneca e levar a da Pfizer disseram-me que “confiavam mais”, ahahah. Não sou negacionista nem o contrário, a única coisa que receio nesta sopa de ignorância e manipulação é aquilo que se chama “tendência de confirmação”, a tendência de favorecer informação na qual já acreditamos, como poderá ser o exemplo de eu crer ter sido infectado, da confiança das pessoas na vacina, ou na vacina A em detrimento da B. A tendência de confirmação é uma das tendências comuns de tomar decisões às quais ficamos sujeitos, e o que ela tem de insidioso é não ser comum reconhecermos que é isso que estamos a fazer. Na verdade a “segurança” é uma falácia alimentada pelo medo, sempre o medinho, a impressão à qual somos mais sensíveis. Tinha este texto alinhavado há algum tempo mas decidi publicá-lo hoje porque na última quinta-feira Marcelo Rebelo de Sousa afirmou com todas as letras aquilo que as instâncias de poder e a informação evitam a todo o custo referir que manipulam: o medo. Assumiu ser necessário mudar a narrativa do medo, o que significa que ela existe. E para que serviu o medo? Não posso desconsiderar a hipótese de que foi para todos sermos vacinados, e estando agora perto de se concluir esse objectivo “há que mudar o discurso no futuro”. O presidente é uma pessoa culta, informada, contudo de uma perspectiva mais elevada da pirâmide diria que é um desbocado…

A medida mais eficaz de luta contra a pandemia, também sem resultados seguros, seria a mudança de comportamento, só que ninguém quer mudar, a organização socio-económica não está preparada para mudar; assim, entre picadas dos campinos e marradas dos outros que seguem connosco na manada fomos conduzidos para o único portão de saída viável: a vacina. Numa analogia menos bestial o mindset da população é igual a copular à brava para depois se passar uma esponja sobre os actos tomando a pílula do dia seguinte. O que a malta quer é fazer o que sempre fez bastando tomar um comprimido que permita manter tudo como dantes. Não será, pelo menos durante largo tempo. O governo inglês retirou a obrigatoriedade do uso de máscara e logo nesse dia as discotecas encheram num degradante espectáculo de excessos; não pretendo ser tão redutor como são para mim, no entanto o comportamento desregrado sugere que negacionistas são eles. Mas até esta aparente normalidade traz água no bico, a partir de Setembro só poderão voltar a gozá-la apresentando um certificado de vacinação. As pessoas parecem saber que amanhã serão sacrificadas no matadouro e aproveitam para gozar a última orgia na noite anterior, é gozar o momento, não há futuro. Medidas deste género colocam os governos ao nível de um traficante de drogas, a primeira dose é grátis, depois de estarmos viciados pagamo-las. E assim nós, os viciados, e os governos, os traficantes de drogas, alimentamos os produtores… O governo português prevê em Outubro fazer o mesmo que os ingleses, e o apelidado “negacionista” continuará a usar máscara em locais fechados porque não é um certificado digital passado pelos dealers que dará segurança, são os comportamentos e medidas necessariamente diferentes dos que tinha no passado. Enquanto leem isto eu posso já ter falecido devido a milhares de causas, covid incluído, mas nem a vacina me garante que fico imune nem me dá a disparatada “segurança extra”, portanto viverei nas franjas da ilegalidade até desaparecer a pandemia, e como não digo “desta água não beberei” tomá-la-ei se entretanto ceder à “normalidade” ou for obrigado por motivos profissionais. E por isso uma parte dos que intuem algo de errado em toda esta história cederá, para não se chatear, não ser excluído ou simplesmente sobreviver. Espero, sobretudo no ocidente, que não venhamos um dia a pagar uma inesperada factura por algo que ingerimos voluntariamente e até tem a nossa assinatura a consenti-lo, em especial aquelas vacinas hi-tech que nos pareciam mais “seguras”, as que mais nos aliviavam o medo.

“Entreter o indígena com toda a espécie de berimbaus civilizados, de modo a comprar-lhe a sua tácita aquiescência de búfalo sorridente e vacamente cooperador; distraí-lo a todo o tempo – distraí-lo sobretudo de si próprio – de modo a não perceber o que se passa no fundo à sua volta; meter-lhe sempre à frente dos olhos um chocalho luminoso (…) um guizo para o estômago, para a pele ou para a fantasia de modo que nunca fixe demasiadamente o olhar no mijo moralista em que a sociedade se apoia, na açorda ideológica que a sustenta; comprar-lhe assim a sua docilidade postiça, o ensopado da sua cooperação inconsciente – é talvez o mais comum e rendoso dos negócios em que todos participamos activamente, de formas directas e indirectas.”

As partes em itálico são excertos de textos lidos entre 1977 e 1978 no programa O Homem no Tempo no canal 4 da RDP, da autoria do radialista João David Nunes e do psicanalista João de Sousa Monteiro. Há 44 anos fui avisado e tomei consciência, portanto não tenho desculpa.

*Músico e embaixador do Plataforma

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