Reflorestamento em Brumadinho usa técnicas inéditas, mas só atingiu 1 por cento

por johnson Chao

Dois anos e meio depois da tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais (MG), o trabalho de reflorestamento ainda está no início. Dos 293 hectares de floresta diretamente atingidos, apenas 3,33 hectares foram recuperados pela Vale. Essa área representa 1,13 por cento do total. A mineradora calcula que levará 10 anos a concluir a recomposição da área. Nesse sentido, tem firmado parcerias com grupos científicos, visando o uso de técnicas inovadoras e modernas. 

A tragédia de Brumadinho ocorreu no dia 25 de fevereiro de 2019, quando uma barragem da Vale rompeu, provocando uma avalanche de rejeitos que causou 270 mortes, devastou o meio ambiente e destruiu pequenas comunidades. Em fevereiro deste ano, um acordo de reparação dos danos coletivos foi firmado entre a mineradora, o governo de MG, o Ministério Público de MG (MPMG), o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública. Devem ser destinados 37,68 mil milhões de reais para um conjunto de medidas, incluindo a recuperação ambiental.  

Os primeiros passos foram dados ainda em 2019. Um projeto piloto foi colocado em prática com o intuito de reconstituir as condições originais do Ribeirão Ferro-Carvão. Segundo levantamentos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mais de 200 hectares da área afetada eram compostos de vegetação nativa de Mata Atlântica e áreas de proteção permanente ao longo de cursos d’água. 

A maior degradação verifica-se no trecho entre a barragem e o ponto de confluência do Ribeirão Ferro-Carvão e do Rio Paraopeba, onde estima-se que cerca de 7 milhões de metros cúbicos de rejeito tenham sido depositados. O reflorestamento depende da limpeza dessa área. 

“Temos um problema. Só podemos remover o rejeito depois da liberação dos bombeiros. Então é um trabalho que está atrelado com as buscas das vítimas”, afirma Marcelo Klein, diretor especial de reparação e desenvolvimento da Vale. Dez corpos das 270 vítimas ainda não foram encontrados. O Corpo de Bombeiros prossegue com as buscas, que chegaram a ser interrompidas duas vezes devido às restrições decorrentes da pandemia de covid-19. A última ocorreu no dia 12 de maio. 

Klein afirma que a Vale deverá, de forma compensatória, reflorestar uma área equivalente a vinte vezes a área afetada. Significa, portanto, alcançar o total de 5.860 hectares. Segundo a mineradora, ainda estão a ser realizados estudos com os órgãos ambientais para definir os detalhes desse trabalho.  

Além dos 3,33 hectares recuperados na região atingida, a Vale também informa ter concluído outros 8,14 hectares em áreas de preservação permanente (APPs) e em reservas legais. Assim, são 11,47 hectares reflorestados até ao momento. A meta da Vale é chegar a 35 hectares até ao fim do ano. Ao longo do tempo, também deverá ser executado um trabalho de manutenção até que o equilíbrio natural seja atingido, assegurando o retorno da biodiversidade.  

Técnicas inéditas 

Para proceder à reflorestação, a Vale tem anunciado parcerias com grupos científicos. Um dos projetos mais promissores está a ser implementado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Uma tecnologia inédita desenvolvida por pesquisadores da instituição promete acelerar a recuperação através do resgate de ADN das plantas nativas. Dessa forma, podem ser selecionadas mudas – plantas jovens retiradas de viveiro para plantação definitiva – com capacidade de iniciar o processo de florescimento oito vezes mais rápido. 

O trabalho de reconstituição das condições originais do Ribeirão Ferro-Carvão também já tinha apostado noutra técnica moderna. Para reconstituir o traçado que a nascente tinha antes do rompimento, foram realizados levantamentos topográficos e consultas aos históricos da ferramenta Google Earth. A partir daí, foi utilizada a tecnologia Green Wall para refazer o canal com rochas e paredes de biotêxtil que permitem a germinação e desenvolvimento das espécies vegetais. 

A Vale assegura que os 3,33 hectares reflorestados estão em áreas completamente livres de rejeito. Dados da mineradora apontam que já foram recolhidos mais de 40 por cento do volume. A situação do solo na área atingida será alvo de pesquisas. De acordo com Klein, o acordo de reparação firmado em fevereiro previu a realização de vários estudos – com universidades envolvidas -, entre eles um que deverá avaliar ricos à saúde humana e animal. No entanto, são pesquisas de longo prazo. “É o que vai dar a garantia, por exemplo, sobre o uso do solo para a plantação, o risco de bioacumulação, se algum resíduo pode passar para a cadeira alimentar”, explicou Klein. 

Outro projeto, fruto de um acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Brumadinho, envolve o mapeamento das abelhas nativas na região. Centenas de colmeias estão a ser catalogadas e monitorizadas por uma equipa de biólogos da própria mineradora. Algumas delas foram resgatadas e realocadas para outras áreas florestais ou para o meliponário criado na cidade. Através da polinização, as abelhas contribuem para o desenvolvimento da biodiversidade e terão um papel relevante para a reconstrução do equilíbrio das áreas reflorestadas. 

Editado* 

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