“Modo de vida de mais de três mil milhões de pessoas depende dos oceanos”

por Filipa Rodrigues
Plataforma com Lusa

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou esta semana que os seres humanos estão a boicotar o que conseguem obter dos oceanos e a pôr em risco o modo de vida de mais de três mil milhões de pessoas

Numa intervenção durante uma conferência para assinalar o Dia Mundial dos Oceanos, o ex-primeiro-ministro português salientou que “mais de três mil milhões de pessoas dependem dos oceanos para os seus modos de vida, a grande maioria das quais em países em vias de desenvolvimento”.

“Muitos dos benefícios que o oceano global nos dá estão a ser destruídos pelas nossas próprias ações”, afirmou António Guterres, apontando um “ataque continuado dos humanos aos mares, oceanos e recursos marinhos”.

Uma das vertentes desse ataque é a quantidade de poluição por plásticos, que “sufocam os mares, dos atóis mais remotos às fossas oceânicas mais profundas”, indicou.

Apontou ainda para as emissões de dióxido de carbono que “contribuem para o aquecimento dos oceanos e a respetiva acidificação”, que levam à perda de biodiversidade e “ameaçam zonas litorais densamente povoadas”.

“A pesca em excesso anual significa perdas de 90 mil milhões de dólares”, assinalou, pondo em risco a sobrevivência de pequenas empresas que dependem desta atividade.

“No esforço para recuperar da pandemia da covid-19, acabemos com a guerra à Natureza”, apelou, considerando que disso depende o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável definidos pela ONU e a meta da subida da temperatura global até ao fim do século abaixo de 1,5 graus em relação à era pré-industrial.

Na conferência “A Blue Agenda in The Green Deal”, também esta semana, no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE), o enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas (ONU) para o Oceano, Peter Thomson, foi ainda mais longe. Na intervenção, apelou ao fim dos “subsídios prejudiciais” que contribuem para a sobre pesca e defendeu um “acordo sólido” contra a poluição pelo plástico.

A eliminação da sobre pesca implica a existência de “lugares onde não seja possível desembarcar capturas ilegais” e de parcerias com “organizações comuns de mercado”, bem como a “aprovação de vários acordos”, como os da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), apontou. 

O responsável sublinhou a necessidade de “pôr fim” aos “subsídios prejudiciais” que contribuem para a sobre pesca, um tema que estará em discussão na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) do próximo mês, em Genebra (Suíça).

“Isso dará aos ecossistemas e à pesca artesanal a ajuda que precisam para beneficiarem de apoio suficiente”, sustentou.

Salientando o problema da poluição marinha provocada pelos plásticos, ao qual exortou a “fazer-se face”, Peter Thomson defendeu a necessidade de “um tratado contra a poluição pelo plástico”.

“Temos de ter um acordo muito sólido que vá às causas, às raízes desta poluição do plástico e que nos permita ter uma economia com base no plástico reciclável e passar para um regime de reciclagem e de reutilização”, considerou.

O enviado especial do secretário-geral da ONU para o Oceano alertou, no entanto, que “não há milagres”, apelando à construção de “infraestruturas de eliminação de resíduos”, “sistemas de redução e de reciclagem do plástico” e “sistemas de substituição do plástico”.

Peter Thomson chamou também a atenção para a acidificação do oceano, que está a acontecer a “um ritmo muito maior do que alguma vez visto”.

“Será muito difícil, se não mesmo impossível, para muitos ecossistemas e muitas espécies adaptarem-se a essa alteração”, admitiu.

Nesse sentido, realçou que o objetivo da Agenda 2030 da ONU sobre o controlo da acidificação dos oceanos “só será possível” controlando as emissões de gases com efeitos de estufa antropogénicos e mudando a economia mundial até 2050.

Peter Thomson destacou ainda a “contribuição extraordinária” que os oceanos dão para a “adaptação e mitigação das alterações climáticas”, pelo que devem “estar no centro de todas as negociações internacionais”, incluindo na 26.ª Conferência da ONU sobre Alterações Climáticas, que decorrerá em novembro na cidade de Glasgow (Escócia).

“É a melhor oportunidade para o mundo conseguir mudar a agulha do desenvolvimento […]. Assim, teremos um maior ímpeto para que todos os países incluam as medidas relacionadas com os oceanos nas estratégias climáticas, incluindo a proteção dos ecossistemas”, asseverou.

O responsável concluiu dizendo que a União Europeia (UE) tem um “papel a desempenhar” nestas matérias, sobretudo no que toca ao “apoio a países parceiros”.

“Se a UE quiser ampliar o papel nesta área, haverá oportunidades de emprego que serão criadas pelo trabalho que é feito para mitigar o impacto da economia nos oceanos, apostando na economia circular e numa atitude respeitosa do oceano”, disse.

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