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O vírus mora aqui ao lado

Sandro Yang

O mês de maio no Sul da China marcou o início da época do verão. As temperaturas começaram a subir e o surto de Covid-19 em Guangzhou agravou-se. Durante um curto espaço de 10 dias, as cadeias de transmissão do vírus na cidade alargaram-se, com cada vez mais infetados e casos assintomáticos. Até 30 de maio foram contabilizadas 23 infeções e 7 casos assintomáticos

Para Zhang Zhoubin, vice-diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças de Guangzhou, “a rapidez da transmissão do vírus marca a principal diferença entre o surto atual e os anteriores. O vírus é altamente transmissível. Basta um jantar, um contacto indireto curto com alguém infetado”.

Assinalou ainda que a estirpe que está agora a circular parece ser “diferente das anteriores”. Estudos mais recentes sugerem que os genes detetados nestes infetados sejam homólogos ao da nova variante encontrada, primeiramente na Índia, e com uma alta carga infeciosa. 

Analisando as cadeias de transmissão, o primeiro caso confirmado foi registado no dia 21 de maio. Tratou-se de uma cidadã de 75 anos, residente no distrito de Liwan. Três dias antes, a 18, a paciente começou a desenvolver sintomas, tendo iniciado tratamento regular para uma constipação. Na tarde de dia 20, a senhora Guo deu entrada no Hospital Popular de Liwan, onde fez um teste de ácido nucleico que deu positivo. No dia seguinte, a 21, após ser reexaminada pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, a paciente foi diagnosticada oficialmente com Covid-19. A 23, o marido de Guo, Lu, foi confirmado como infetado assintomático. O distrito de Liwan registou, logo a seguir, a 26, um outro caso. Tratou-se de um paciente de apelido Song. Na manhã de dia 19 tinha estado numa casa de chá na Rua Kangwang, onde Guo esteve também nessa mesma ocasião.

Outro dos casos positivos foi o de Xu, neto de Song, e Lei, a nora, ambos assintomáticos.

No mesmo dia 26, o distrito de Haizhu também registou um caso positivo num teste de ácido nucleico. Song Muming (mais tarde confirmada como assintomática), tinha estado em contacto com Song.

Todos os casos mencionados, mesmo os assintomáticos, estão ligados ao caso de Guo. Ficaram infetados por viverem com alguém com o vírus ou por terem frequentado o mesmo espaço, partilhando a mesma cadeia de infeção. Desde então, a epidemia continua em constante mudança. O número de casos confirmados e de pacientes assintomáticos aumenta diariamente. Atualmente, a maioria dos casos detetados fazem parte de uma comunidade presente em duas ruas do distrito, sendo os casos exteriores relacionados com o distrito de Liwan. As áreas onde foram registados estes casos foram já isoladas e estão a ser supervisionadas.

No dia em que o surto teve início, os departamentos de prevenção e ataque à pandemia de Guangzhou puseram de imediato em prática as medidas de resposta pré-estabelecidas, com o envio de uma equipa médica e a realização de testes e análises meticulosas na área. Foi assim que começou de novo a guerra contra o vírus em Guanzghou, tendo o distrito de Liwan anunciado, a 26, que todos os residentes permanentes e temporários da região iriam ser testados. Às zero horas do passado dia 29 ficou completa a primeira fase de testes, com um total de 2,25 milhões de pessoas testadas.

De forma a cortar rapidamente a cadeia de transmissão, as autoridades da província continuaram no dia seguinte com os testes em Liwan e alargaram a medida às áreas vizinhas deste distrito.

Desde o passado dia 29, Guangzhou aplicou medidas de controlo e prevenção da propagação do vírus. E algumas áreas do distrito de Liwan a maioria das pessoas está em casa, com uma interrupção de todas as atividades diárias não consideradas essenciais. Apenas uma pessoa por agregado familiar tem autorização para sair uma vez por dia para comprar bens essenciais, com os restantes elementos obrigados a ficar em casa. A equipa de prevenção e controlo epidémico de Guangzhou emitiu na noite de dia 30 um aviso a explicar que todas as pessoas que queiram sair da província, através do aeroporto, linhas ferroviárias ou autocarros (incluindo passageiros que estão em Guangzhou apenas de passagem), precisam de apresentar um código de saúde verde e um teste nucleico negativo com menos de 72 horas.

Espera-se também que o processo de vacinação na província seja acelerado. Além de um aumento nos locais de vacinação foram ainda enviados mais profissionais de saúde para auxiliar neste processo. Até ao momento, mais de 50 milhões de pessoas foram vacinadas na região (incluindo a primeira dose), e as marcações estão suspensas até dia 10 de junho. A segunda dose começou a ser ministrada para que os anticorpos sejam ativados o mais rápido possível e seja bloqueada a transmissão do vírus. Toda a nação está a demonstrar o apoio para com Guangdong, sendo oferecida prioridade na primeira dose da vacina a residentes nas regiões de risco. No início desta semana, por exemplo, foram enviadas de Tianjin 100 mil doses da vacina para ajudar no controlo e prevenção epidémica na província. Uma dose oferece proteção contra o vírus durante cerca de 14 dias, e uma taxa de eficácia entre 68 a 95 por cento, relativamente aos casos mais graves. Durante o início de um surto, a toma da primeira dose já é capaz de oferecer proteção à população.

Esta onda em Guangzhou é marcada por uma rápida transmissão e carga viral forte, com casos positivos entre cinco gerações num período de 10 dias, uma situação considerada sem precedentes.

Tem-se ouvido falar da evolução da pandemia na Índia, com os casos diários de infetados a ultrapassarem os 400 mil e é entre estes que foi encontrada uma nova variante do vírus. Há questões ainda por responder. Como veio esta nova estirpe parar à China e se estarão os casos esporádicos registados em Shenzhen relacionados entre si. Ainda não existem respostas para estas perguntas, sabendo-se apenas que a variante que foi agora descoberta na China é a B.1.617, primeiramente registada na Índia. Esta estirpe foi detetada pela primeira vez o ano passado, sendo classificada como B.1.617 pela OMS já este mês e declarada uma “variante perigosa”. A líder técnica do programa de emergência da OMS, Maria Van Kerkhove, assinalou que existem já dados que indicam que esta estirpe é mais transmissível do que as anteriores. Estudos preliminares apontam também que os anticorpos não são tão eficazes a neutralizar este vírus.

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