É preciso preparar talentos para o desenvolvimento financeiro

por Filipa Rodrigues
Carol Law

A Direção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC) publicou esta semana os resultados do “Inquérito às Necessidades de Mão-de-obra e às Remunerações das Atividades Financeiras”, relativos ao primeiro trimestre do ano. No documento lê-se que mais de 80% dos bancos estão a oferecer formação na área financeira aos funcionários. Há quem defenda que se o Governo quer desenvolver o setor, terá de definir primeiro, claramente, os objetivos e posicionamento, caso contrário, a indústria não tomará uma direção clara e os jovens não irão ver ali futuro. Além disso, decisores, empresas da indústria e instituições de ensino superior devem colaborar para controlar a procura e oferta de talentos a curto, médio e longo prazo.

De acordo com os dados da DSEC, o setor de atividade financeira conta com 8.196 funcionários a tempo inteiro, representando um crescimento anual de 160. Daquele total, a indústria bancária conta com 85,2% dos funcionários. Em março deste ano o salário médio no setor (excluindo participações em lucros e prémios) foi de 29.100 patacas, ou seja, representa uma quebra anual de 1,5%. Em termos de treino profissional, o número de funcionários a receber formação no setor bancário subiu em 56,3%. Entre as 297 formações disponíveis, a de “Comércio e Gestão” contou com o maior número de formandos (63,4%), seguida da de “Direito” (23,0%). É de salientar que 50,9% dos funcionários participaram nas formações em horário pós-laboral.

Tong Kai Chung, presidente da Associação de Estudo de Economia Política, assinala que “o salário de trabalhadores a tempo inteiro no setor financeiro caiu em 1,5% a nível anual, podendo sugerir que o impacto da pandemia sobre a economia local é maior e mais duradouro do que aquilo que se esperava anteriormente, e que a procura do mercado laboral, incluindo no setor financeiro, também foi atingida”. Com os crescentes requisitos de qualificações e especialidades na indústria bancária, juntamente com o rápido desenvolvimento da indústria, a competição neste mercado está cada vez mais feroz. Assim sendo, quer seja devido à transformação das necessidades das empresas ou às exigências dos próprios funcionários, existe uma maior procura por treino vocacional.

De facto, ao longo dos últimos anos Macau tem desenvolvido a indústria financeira, com a formação profissional a ser uma das medidas-chave nesse processo. A Autoridade Monetária de Macau diz que está a trabalhar num plano de construção e aplicação de uma reserva de talentos financeiros, além da organização de atividades educativas com o Instituto de Formação Financeira de Macau (IFF). Vão também ser estabelecidas colaborações com instituições de ensino superior e com outras áreas da Grande Baía, promovendo a criação de profissionais financeiros e encorajando residentes de Macau a obter certificações profissionais internacionais na área.

O Instituto para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), juntamente com a Cimeira da Juventude de Macau, avançaram também com alguns dados relativos ao período entre dezembro de 2020 e maio deste ano. A instituição indica que, segundo a informação fornecida pelos bancos que criaram departamentos financeiros modernos, existem apenas 15 funcionários ativos na área, garantindo que haverá um grande crescimento na procura de talentos no setor ao longo dos próximos 3 a 6 anos.

Por exemplo, estima-se que a oferta na área do desenvolvimento de produtos financeiros cresça 38,55% nos próximos três anos e 73,49% a seis anos, enquanto na de gestão e custódia de bens aumente 42,86% a três anos e 70,24% a seis.

É possível concluir que a área financeira moderna terá grande espaço de crescimento no futuro, levando a uma crescente discrepância entre a oferta e procura no setor. Um relatório publicado pela Cimeira da Juventude de Macau – “Estudo e Sugestões de Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos na Indústria Financeira Moderna de Macau” -, indica que o desenvolvimento local desta indústria vai precisar de talentos como, contabilistas, profissionais legais, peritos em tecnologia financeira, gestores e tradutores. O documento recomenda que o Governo continue a desenvolver e enriquecer a indústria, cultivando talentos através de estágios ou programas de intercâmbio para trazer experiência às instituições, encorajando-os a participar no crescimento do setor em Macau.

Para Johnson Ian, vice-presidente da Associação da Sinergia de Macau, “caso o Governo queira desenvolver a área financeira, precisará de definir concretamente o posicionamento e objetivos, caso contrário a indústria não possuirá uma direção clara e a juventude local não irá tomar a área como uma perspetiva de futuro”. Para o analista, “atualmente não existe qualquer medida específica. A maior parte das vezes ouvem-se apenas comentários ocasionais de membros do Governo”.

“O anterior Governo falava constantemente sobre o desenvolvimento de um setor financeiro caraterístico, mas não foi implementada qualquer medida. O novo Executivo definiu uma direção – o mercado de ativos. Mas, para já, em nada difere do anterior. O mais importante é a formação profissional. A nível legal várias instituições do continente possuem classificações para oferecer esses cursos, mas ainda não existe nenhuma medida relacionada”, assinala. Tong Kai Chung, presidente da Associação de Estudo de Economia Política, sugere uma maior cooperação entre o Governo, a indústria financeira e instituições de ensino, admitindo que será possível avaliar a curto, médio e longo prazo os tipos de certificação necessários para o desenvolvimento desta indústria a nível global, regional e local, e a capacidade de oferta laboral de Macau. “Se, segundo a análise anterior, for concluído que a oferta de profissionais na área é insuficiente, devem ser postas em prática de imediato as medidas relevantes que possam estimular esta oferta. Caso as necessidades do mercado não recebam a oferta que necessitam a curto prazo, pode ser considerado o uso de um mecanismo científico e transparente para a introdução de profissionais como apoio às necessidades de desenvolvimento da indústria”, conclui.

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