A chegada a Taiwan de um cidadão da China continental que diz ter atravessado o estreito num bote em fuga ao comunismo e em busca de “liberdade e democracia” é vista com suspeita em meios militares taiwaneses
O vice-almirante taiwanês Chiang Cheng-kuo considerou mesmo, na segunda-feira, que é pouco provável que o chinês – de que apenas é conhecido o apelido Zhou – chegado ilegalmente a Taiwan no fim de semana, tenha feito todo o trajeto entre o continente e a ilha num pequeno barco, por causa do combustível limitado.
O território de Taiwan é autónomo desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, depois da derrota na guerra civil frente aos comunistas.
Formalmente denominada República da China, Taiwan tornou-se, entretanto, uma democracia com uma forte sociedade civil, mas Pequim continua a considerar a ilha parte do território nacional e ameaça a reunificação por via do conflito.
Zhou entrou no território taiwanês ao final da noite de dia 30 de abril e, de acordo com as autoridades que intercetaram o cidadão chinês, navegou pelo Estreito de Taiwan desde Fujian (China), num bote de borracha com um motor com capacidade para 90 litros de combustível.
O cidadão chinês disse que rumou a Taiwan em busca de “liberdade e democracia” e que não era um criminoso.
Citado pela agência CNA durante uma audiência legislativa na segunda-feira, o vice-almirante Chiang Cheng-kuo lançou suspeitas, contudo, sobre a veracidade deste relato, devido à questão das limitações de combustível para fazer a travessia.
Zhou poderá ter feito parte da viagem indetetável pelos radares das Forças Armadas taiwanesas, já que este tipo de embarcação escapa aos dispositivos instalados em terra e em barcos da Marinha. Já os radares da Guarda Costeira teriam captado o percurso do cidadão chinês, explicitou o vice-almirante.
Este episódio ganhou relevância particular por causa da deterioração das relações entre Taipei e Pequim, agravada nas últimas semanas.
Zhou está detido e isolado para cumprir um período de quarentena de 14 dias, por causa da pandemia, e poderá ser acusado de violar o Ato de Imigração de Taiwan.
Uma investigação está em curso para determinar a identidade e confirmar a história do cidadão que entrou ilegalmente e, aparentemente, indetetável no país.
De acordo com legislação taiwanesa, a pena máxima para entradas ilegais no país é de três anos de prisão ou uma multa de 90.000 novos dólares taiwaneses (cerca de 2.671 euros).