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Os oceanos devem ser protegidos

David Chan*

O Governo japonês decidiu lançar no Oceano Pacífico 1,2 milhões de toneladas de água contaminada da central nuclear de Fukushima. Porém, o mais incompreensível é o facto de tanto a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apoiarem esta decisão.

Rafael Grossi, diretor geral da AIEA, visitou Fukushima em fevereiro e partilhou que é prática comum em centrais nucleares lançar águas residuais para os oceanos em situações onde não existe risco. Outros afirmam que os níveis de trítio radioativo libertados na água não ultrapassam um sétimo dos limites da OMS para os padrões de água potável. Mas não mencionam a presença de altos níveis de carbono-14, um dos principais elementos de transmissão de radiação em humanos e que pode causar danos ao ADN. De acordo com um relatório da Greenpeace, a água contaminada contém níveis altíssimos destes elementos radioativos como trítio e carbono-14.

O mais interessante é o facto de o mundo ocidental, liderado pelos Estados Unidos, estar silencioso ou ambíguo em relação a esta decisão japonesa. Será que de facto não veem qualquer problema no lançamento de águas nucleares contaminadas no oceano? Não se trata isto de poluição marítima?

Na realidade, o Oceano Pacífico e o Oceano Atlântico, e até o Oceano Ártico, já são grandes aterros nucleares. Segundo a AIEA, entre os anos de 1946 e 1993, países como os EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica, Holanda e a Suíça lançaram mais de 20 mil toneladas de resíduos nucleares sólidos para os oceanos. Entre estes, apenas os EUA lançaram no mínimo 190 mil metros cúbicos de matérias radioativas no norte do Oceano Atlântico e Oceano Pacífico. Isto exclui ainda a poluição marítima causada por 28 explosões nucleares dos EUA no Oceano Pacifico entre 1946 e 1958. Os EUA tiveram também pelo menos cinco ou seis submarinos nucleares, alguns que transportavam bombas nucleares, submersos entre 1700 e 5500 metros. Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, afirmou estar orgulhoso do Japão por se estar a esforçar para tratar dos respetivos resíduos nucleares. Ou seja, tanto a AIEA como toda a comunidade internacional têm mantido o silêncio em relação a esta situação por acharem que a decisão japonesa não constitui nada de grave.

A comunidade internacional compreende que existe mais de 1 milhão de toneladas de água residual acumulada na central nuclear desde o terramoto de 2011 em Fukushima, e que a capacidade de armazenamento irá atingir o limite no próximo ano. Todavia, não nos podemos esquecer que embora um terramoto seja um fenómeno natural, a responsabilidade do que possa acontecer recai sobre o país onde acontece e o resto do mundo não deve sofrer consequências por isso. Não foi o incidente de Chernobyl na antiga União Soviética de maior dimensão do que o terramoto de Fukushima? Com esta atitude o Japão está não só a fazer uma escolha irresponsável para benefício económico próprio, como a escolher a saída mais fácil. Temos de saber distinguir entre acidentes e ações com propósitos claros. Espero que Japão acorde a tempo e se aperceba do que está prestes a fazer, mas caso acabe mesmo por lançar águas residuais nucleares no oceano, então vamos acabar todos a comer comida radioativa.

*Editor Senior

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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