Frente a frente

por Filipa Rodrigues
Paulo RegoPaulo Rego*
Paulo Rego

Desengane-se quem espera que Joe Biden inclua a China no multiculturalismo que recupera na Agenda Climática e na Aliança Atlântica. A ferida aberta com Moscovo vem dos tempos em que dirigiu a política externa de Barack Obama. Quanto à China… o ADN da Casa Branca confronta o regime não-democrático que ameaça a hegemonia norte-americana – económica e tecnológica. Biden apoiará militar e financeiramente os vizinhos da China, recreando o fantasma expansionista de Pequim.

A Guerra Fria, as sucessivas invasões do Iraque, o combate ao comunismo em África e na América Latina… não são marca republicana. Desde a Segunda Guerra formatam a política externa norte-americana, esteja quem estiver no poder. E as bandeiras da democracia e dos direitos humanos estão enraizadas no espírito do Ocidente, com apoio das populações, em boa parte rendidas ao “polícia do mundo”.

O radicalismo missionário esconde interesses políticos e económicos – expostos na falsa ameaça nuclear que “legitimou” a última invasão do Iraque. E os direitos humanos implicam travão às potências emergentes. Sendo um bem civilizacional com todo o mérito, a Carta Magna das Nações Unidas encerra custos com a saúde, educação, direitos laborais, infraestruturas de desenvolvimento… que os tigres asiáticos negam, preferindo o baixo custo dos bens que exportam.

A democracia – cada vez com mais defeitos – é o pior de todos os sistemas… tirando todos os outros. Os seus maiores trunfos – direitos humanos e liberdades – merecem, de facto, proliferação global. Contudo, a China não vai ceder aí. Pelo contrário: Pequim aproxima-se da Rússia – e de outros regimes não recomendáveis – à medida que Washington aperta o cerco. Não é o melhor dos mundos.

Já se a China ceder onde realmente dói – guerra tecnológica, negócios e influência global – o discurso dos direitos políticos e humanos baixará de tom. A Realpolitik não é da ciência política das ditaduras – é do Ocidente, quando prefere explicar ao povo que, afinal, vale mais o negócio que a dita missão.

*Diretor-Geral do Plataforma

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