Centenas de pessoas, muitas delas estudantes, concentraram-se hoje nos pontos de saída da capital timorense, Díli, procurando sair da região, devido às dificuldades que sentem por causa da cerca sanitária na cidade.
Relatos de cidadãos e da imprensa timorense dão conta de grandes aglomerações nos principais pontos de saída da cidade para leste, oeste e sul, com inúmeras viaturas concentradas desde o início da manhã, uma situação confirmada à Lusa por fonte governamental, que fala em pelo menos um milhar de pessoas.
A situação é a mais tensa desde o início das medidas de confinamento obrigatório em Díli, com longas filas de viaturas de todo o tipo concentradas nos pontos de saída, em Tasi Tolu (para oeste), Manleuana (para sul) e Hera (para leste).
“Temos de viajar para os municípios. Não aguentamos as condições de vida aqui em Díli”, disse Feliciano Mota, um dos muitos que tentavam sair a partir de Tasi Tolu, à agência timorense Tatoli.
A cerca sanitária está a afetar muitos dos residentes de Díli, especialmente estudantes, que dependem de apoio regular das suas famílias nos distritos, incluindo para alimentação, mas que não o têm desde o começo da medida, a 08 de março.
O executivo entregou sacos de arroz a alunos do ensino superior, mas os estudantes queixam-se de a assistência não ser suficiente e pedem para poder voltar para as suas famílias.
Muitos outros habitantes em Díli vivem os mesmos problemas, já que a sua situação socioeconómica é precária, tendo-se agravado significativamente desde o início da cerca.
O Governo deliberou estender a cerca sanitária até pelo menos 16 de abril, devido ao aumento constante de casos da covid-19, uma decisão que fez aumentar a preocupação em muitas pessoas, devido às condições difíceis por que estão a passar.
Parte das movimentações de hoje são atribuídas a mensagens falsas que se tornaram virais no Facebook e no Whatsapp, segundo as quais a cerca seria levantada hoje temporariamente e as movimentações seriam permitidas para fora da capital.
António Armindo, vice-ministro do Interior, explicou à Lusa que apesar da grande concentração das pessoas – “até mil” –, não há problemas registados até ao momento e que a situação está “controlada”.
“Eu sinto a dor que as pessoas sentem, mas este é um problema de saúde pública universal e todos temos que trabalhar em conjunto”, disse à Lusa.
“Entendemos que querem voltar, não têm dinheiro para comprar comida ou pagar a renda, mas o Governo colocou a cerca para evitar o contágio do vírus e quanto mais movimentos há, maior é o risco de levar a doença para os municípios”, considerou.
António Armindo recordou que há um procedimento que permite solicitar autorização para movimentos ao Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC), exigindo-se que se cumpram alguns critérios, incluindo um teste negativo à covid-19.
“Alguns estão frustrados, porque temos muitos pedidos, e isso demora a processar, devido às limitações que temos. Mas estas medidas são essenciais”, explicou.
“Estamos a ver possibilidades adicionais para os ajudar. Eles precisam de ajuda, mas temos que garantir que a saúde publica é protegida, porque o risco atualmente é muito elevado. Esta situação já ocorreu noutros países, e flexibilizar muito levou a muitos casos e até mortes”, relembrou.
Fidelis Magalhães, ministro da Presidência do Conselho de Ministros, disse à Lusa que as regras são claras e que não há qualquer abertura da cerca, que vai continuar como medida para travar a propagação do vírus.
“O Governo está a fazer todos os esforços para responder às necessidades da população e foi com esse fim que preparou um pacote de medidas de apoio socioeconómico que já está no parlamento”, recordou.
“A economia timorense ainda tem uma base muito grande em ‘cash’ e uma grande dependência no orçamento e no setor público. Esperamos que estas medidas ajudem a responder a alguns dos problemas, possam acalmar a situação e instalar confiança nos agentes da economia”, referiu.
“Vamos começar a vacinação e com grandes sacrifícios temos evitado mortes. Agora vamos dar um salto, um último sacrifício, para tentar chegar ao fim disto sem mortos e sem danos piores ao país”, considerou.
Quanto às regras em vigor, Fidelis Magalhães disse que há por vezes alguma confusão na sua aplicação por parte das pessoas, recordando que o Governo “é o autor das medidas e não está a interpretá-las”.
“Os implementadores são só isso, têm mandato para implementar as ordens que saem do Governo”, disse.
“Infelizmente, até alguns líderes violam as regras como querem e essa mentalidade fica na cabeça das pessoas, de que um dia dizem uma coisa e no outro dia fazem outra. Mas neste caso as medidas são claras e a ordens do Governo são claras”, reiterou.
Timor-Leste vive, atualmente, o pior momento desde o início da pandemia, com 451 casos ativos no país, maior número de sempre, e um total de 643 casos acumulados.
O Governo aprovou a renovação da cerca sanitária e confinamento obrigatório até 16 de abril em Díli e até 09 de abril, pelo menos, em Baucau e Viqueque.