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A TDM, o jornalismo e a política

Paulo RegoPaulo Rego*

O tema é sensível e vai muito além da TDM. Afeta a Imprensa em geral, uma ideia de cidade – o próprio “Segundo Sistema”. Há um conflito entre o jornalismo, o serviço público de televisão e a realidade política. A Comissão Executiva da TDM geriu mal a pressão; perdeu o equilíbrio e o bom senso… mostrou desconhecer o jornalismo – que faz parte da empresa e da RAEM. Agora é preciso calma… urge recuperar o bom senso e o espaço negocial.

O jornalismo é o que é. E o comunicado da Associação de Imprensa Portuguesa e Inglesa é sobre isso inequívoco. Mas a circunstância também é o que é: a Assembleia Nacional Popular mandou “revisitar” a Imprensa, o South China Morning Post já assume a “democracia de caraterísticas chinesas”… e a TDM, empresa de capital público, não é imune ao contexto.

Mais… o tema é polémico, mas assumo: no passado recente, algumas vozes do canal português da TDM esticaram a corda. Assumiram uma agenda frontalmente contra o novo ciclo político – ainda durante a campanha eleitoral – tal qual cavaleiros da Lei Básica e do Tratado Internacional. Fizeram mal… Chamaram o “monstro” – e ele veio. Mal… a reação foi violenta e desproporcional – até emocional. Mas esperada.

O Chefe do Executivo garante respeitar a liberdade de Imprensa; o Gabinete de Comunicação Social diz o mesmo… Não vivem num planeta diferente do da Comissão Executiva da TDM. Divergem é na forma, no tom, na consciência do que está em causa…

Há agora quem exija à Direção da TDM que se demita, em protesto suicida. Também mal. Sejamos justos: a censura foi evidente nos últimos anos da Administração Portuguesa. Após a transição de poderes, os canais portugueses da TDM – televisão e rádio – promoveram o jornalismo e acolheram alguns dos melhores profissionais de Macau. O que diz bem dos seus jornalistas, da sua Direção – e dos sucessivos governos que o permitiram. Se não mediarem agora o conflito – dificilmente outros o farão.

A TDM em português é um luxo. Não há, em parte alguma, exemplo semelhante. É um bem de todos, que todos devem proteger. Levantam-se problemas? Graves! O jornalismo foi posto em causa? Claramente. Mas há que descontar a pressão, a inexperiência e a inabilidade, entender as culturas em presença… negociar. O canal público não pode ser a voz da discórdia. Temos de aceitar isso. O que serve a todos é que os seus responsáveis evitem becos sem saída e reencontrem o diálogo, a credibilidade da estação pública. Os jornalistas da TDM precisam de apoio, não de arrogância pseudoinocente. Macau – a começar pela sociedade chinesa, precisa de consciência coletiva, bom senso – e capacidade negocial. E o poder político deve entender que, se mata jornalismo, não haverá jornalismo – nem tudo o que ele promove. Perdem todos mais do ganham. Cabe também ao Governo da RAEM temperar o amor à Mãe Pátria com a identidade de Macau e o Segundo Sistema.

O Chefe do Executivo garante respeitar a liberdade de Imprensa; o Gabinete de Comunicação Social diz o mesmo… Não vivem num planeta diferente do da Comissão Executiva da TDM. Divergem é na forma, no tom, na consciência do que está em causa… Feita a asneira da TDM, há que encontrar espaço de recuo e entendimento. A questão é séria. Chocar de frente contra a realidade é um erro. Outro, ainda pior, é calar uma interpretação do real que não serve ninguém.

*Diretor-geral do Plataforma

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