Escolher a razão

por Filipa Rodrigues
Paulo RegoPaulo Rego*
Paulo Rego

A cruzada ocidental em prol dos direitos humanos e democracia, após a Segunda Grande Guerra, adensou o fosso entre regimes que não se entendem nem confiam uns nos outros. Interesses económicos pouco transparentes, nuns casos potenciam o conflito, noutros relegam-no para um segundo plano.

Exemplo claro da chamada realpolitik é o da Alemanha de Merkel, que chegou a ter apoio da direita radical; preferiu a China de Xi Jinping e a Rússia de Putin à América de Trump. Mas vai mudar: Merkel recolhe e Biden recupera o multiculturalismo, embora mantenha Pequim e Moscovo à distância.

A escassez de vacinas no ocidente expõe esta espécie de “guerra fria” cultural, na qual vinga o preconceito e o medo do outro, sobrepondo-se ao rigor científico e ao interesse coletivo. As vacinas russa e chinesa não são piores nem melhores do que as outras. Perante uma crise pandémica a esta escala, são eficazes ou não, merecem certificação científica ou não, cumprem prazos de entrega ou não…

O preconceito anuncia novos perigos: a imunidade tem de ser global. Além dos direitos humanos em causa, sem isso não se recupera a mobilidade, a economia, a sanidade… Não são neste caso aceitáveis conflitos ideológicos ou geoestratégicos pandémicos. Pode haver comércio e investimento chinês à escala planetária, mas a vacina nem por isso?

O combate à Covid-19 é do interesse geral e uma oportunidade única para uma aliança científica à escala global. Em sentido contrário, também anuncia pretextos para nacionalismos, egoísmos e uma espécie de “guerra fria” biológica, com destruição económica, social e política. O resto das nossas vidas será marcado pela consciência de todos os líderes políticos. Escolher bem é tratar das emoções que nos dividem e construir as pontes racionais necessárias.

*Diretor-Geral do Plataforma

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