O Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) defendeu ontem, em comunicado, que Moçambique deve rever a decisão de expulsar o jornalista Tom Bowker e permitir-lhe trabalhar livremente no país.
Os responsáveis da imigração moçambicanas forçaram esta terça-feira o jornalista britânico e cofundador e editor do ‘site’ Zitamar News a deixar Moçambique e proibiram-no de voltar ao país durante 10 anos.
Isto depois de uma disputa de meses com as autoridades de informação e imigração de Moçambique, que alegavam que não tinha a documentação correta para trabalhar no país, de acordo com reportagens publicadas na imprensa e nas redes sociais.
Na rede social Twitter, o jornalista disse que a expulsão teve “motivação política”.
O Zitamar News faz a cobertura de assuntos de economia, política e direitos humanos no país, bem como sobre o conflito e a violência na província de Cabo Delgado.
“A expulsão de Moçambique e a proibição do jornalista Tom Bowker é uma mensagem arrepiante para a comunidade mediática do país”, disse a coordenadora do programa África do CPJ, Angela Quintal, citada no comunicado desta organização.
“Os jornalistas em Moçambique, especialmente os que cobrem o conflito em Cabo Delgado, foram presos, assediados, ou desapareceram”, frisou, antes de acrescentar que “a expulsão de Bowker é outro exemplo dos esforços do governo para controlar as reportagens em Moçambique”.
Em janeiro, as autoridades de imigração disseram verbalmente a Bowker que tinha de abandonar o país, mas o jornalista nunca recebeu nenhuma diretiva escrita para o fazer até ao dia 02 de fevereiro, disse um indivíduo com conhecimento do caso, que falou com o CPJ, sob anonimato, segundo aquela entidade.
Essa diretiva foi dada verbalmente, por duas vezes, nos dias seguintes, adiantou a mesma pessoa ao CPJ.
“Quando o CPJ telefonou a Emília Moiane, a diretora do Gabinete de Informação do Governo, que facilita os registos mediáticos no país, esta disse que a decisão de expulsar Bowker não partiu do seu gabinete, e encaminhou o CPJ para a autoridade de imigração. O CPJ ligou para o Ministério do Interior de Moçambique, que supervisiona os serviços de imigração do país, mas ninguém respondeu”, refere ainda o comunicado.
Em abril de 2020, o CPJ e outros 16 grupos da sociedade civil escreveram ao Presidente de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, para expressar a sua preocupação com a situação dos direitos humanos no país, incluindo o desaparecimento forçado do jornalista de rádio Ibraimo Abú Mbaruco.
“Mbaruco foi ouvido pela última vez, no início daquele mês, quando enviou uma mensagem de texto a um colega dizendo que estava “cercado por soldados”, o que foi documentado pelo CPJ na altura, relembra.