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Dimensão alternativa

João MeloJoão Melo*

Estamos no carnaval, sabiam? Eu soube ontem num zapping em que de raspão vi uma notícia sobre os caretos… Tive conhecimento antecipado do ano novo chinês, do dia dos namorados, mas o carnaval chegou-me de surpresa. Enfim, sem possibilidade de celebrar condignamente a festividade, fiz o carnaval na minha cabeça, enveredando por devaneios de formas e conteúdos da Língua Portuguesa. Espero que não levem a mal.

A palavra do dia para hoje é “escretor” – indivíduo que escreve umas merdas. Seguem outras propostas para novas palavras e significados:
Amarrotar – adorar expelir com ruído ar amarfanhado no estômago.
Análise – inspecção rectal.
Aritmétrica – ciência que estuda o comprimento dos versos.
Aumamentar – dilatar a quantidade oferecida de leite do peito.

Bananaliza – torna vulgar o consumo de bananas. 
Baralharar – confundir.
Bengola- colar cervical para dar apoio ao pescoço.

Calhambeque – veículo velho que umas vezes calha andar, outras não.
Capachinho Vermelho – conto popular em lares de terceira idade.
Casaquistão – grande armazém de agasalhos.
Cháruto – folhas de chá enroladas para serem fumadas. 
Chisqueiro – porcaria altamente inflamável.
Chouriço – enchido feito com carne de ouriço.
Conichão – prurido na zona vaginal.
Convento – habitação de comunidade religiosa sem janelas e cheia de correntes de ar.
Culuna – a região inferior da espinha dorsal.

Deferida – aceite mas com mazelas. Ex: embora o papel apresente rasgões, a requisição foi aceite pelo Sr. director.
Desfrutar – subtrair fruta ao seu legítimo dono. 
Dizculpa – pedido para outrém se retratar.
Doisdos – um par de malucos.

Empatia – sentimento de proximidade com a irmã da mãe ou do pai.
Escarro – gosma mucosa expelida através da janela de um veículo.Excândalo – situação embaraçosa do passado.
Exposo – cônjuge de um anterior casamento.

Fiâmbar – carne fria de cor amarelada e odor almiscarado.

Galisa – terra plana ao norte de Portugal.

Hipócrita – alguém que finge ser um cavalo.

Los Ângulos – cidade norte-americana caracterizada por uma geometria peculiar.

Mamecas – alternativa ao galicismo soutien. Se as cuecas tapam o cu, as mamecas tapam as mamas. 
Mascaralhado – indivíduo disfarçado de pénis.
Merecedes – veículo adquirido com mérito.

Obtusa- mulher acometida por um desejo sexual desabrido. 
Ógarina – instrumento musical usado por homens grosseiros para chamar a atenção de mulheres.
Óóleo – líquido viscoso com que se massaja o peito do bebé antes de dormir.
Ósculos – beijos dados por alguém com acessórios para a falta de vista.

Pasta de doentes – dentífrico usado em hospitais.
Pi-ano – 3,14-365. Pilar – tirar o revestimento de uma estrutura sustentadora.
Plutinho – satélite de Plutão.
Pósmio – altura em que efectivamente se recebe um prémio.

Rétro-visor – espelho antigo. Deitar um olhar ao passado (fig.)

Salpicar – ferir de forma perfurante com sal.
Satananás – o fruto do diabo.
Seios – três pares de mamas.
Semsação – ausência de impressão transmitida pelos sentidos.
Semtido – falta de direcção.

Talento – qualidade que se vai revelando de forma arrastada no tempo.

Verdejo – mosaico típico da Irlanda, tal como o azulejo, de tonalidade azul é uma marca distintiva da cultura portuguesa.

Anagramas à toa de comidas: bacalhás à brau, bacalhipo à Zé do Pau, bacalhatas com nau, feijoana à transmontada, bairrão da leitada, empadarne de cão, frasco de churrango, dostarda de mijon, mostal com merda, piço com chourão, piça com linguão. Anagramas de locais: Santo Anteiro dos Cavalónios, Pívia de Santa Iróia, Santa Iróia de Azia, Charnica da Capareca, Armacera de Pão, Olivades de Freira, Parcos de Aço, Pós de Morto. Anagramas de nomes: Camelo Pessinha, Peixeira de Tascoais, Vergeira Ferrílio, José Agualuso, Esbela Florpanca, Núnice Judo, Josago Saramé, Cristialdo Ronano, Ancónio Tosta e a sua sinistra da máude Tarta Memido. Anagramas de objectos: higiel papénico, leitê de ceidor, cozão de foguinha, suívete caniço, piauda de cano…

Conjugação de pretéritos perfeitos:
Eu renei, tu renaste ele renault.
Eu pagei, tu pajaste, ele peugeot.
Eu avei, tu avaste, ele avô.

Conjugação de pretéritos imperfeitos:
Eu orgia, tu orgias, ele orgia.
Eu enguia, tu enguias, ele enguia. 
Eu oitava, tu oitavas, ele oitava.

Agora para aqueles que têm o horrível hábito de confundir a conjugação da primeira pessoa do plural com um modo reflexivo, dirijam-se por favor ao quadro para escrever… o erro ad nauseum. Para castigo sugiro que usem alguns dos mais belos verbos da nossa língua, infelizmente cada vez menos utilizados: barbariza-mos, vilipendia-mos, cauteriza-mos, esfrangalha-mos, pisoteia-mos, apedreja-mos, enxovalha-mos, defenestra-mos, tantaliza-mos, infecta-mos, malha-mos, decepa-mos, incendeia-mos, incinera-mos, calca-mos, chicoteia-mos, esbofeteia-mos, conspurca-mos, vergasta-mos, espanca-mos, martela-mos, açoita-mos, executa-mos, coze-mos, cose-mos…    

Questões a dois tempos:
Se na Suécia são suecos porque é que em Marrocos não são marrecos?
Se em Lisboa há lisboetas porque é que em Rabat não há rabetas?
Se os dos Açores são das ilhas, porque é que os de Braga não são braguilhas?
Se na Argélia são argelinos porque é que na Suíça não são suínos? 
Se os da Grã Bretanha são britânicos porque é que os de Meca não são mecânicos? 
Se em Chipre são cipriotas porque é que na Índia não são indiotas?
Se na Polónia são polacos, porque é que em Macau não são macacos?
Se os de Israel são israelitas porque é que os de Paris não são parisitas
Se na Lapónia são lapões, porque é que em Lyon não são leões?
Se em Espanha são espanhóis porque é que em Caracas não são caracóis?

Questões a três tempos:
Liguei a TV de manhã e escutei as previsões astrológicas do professor Bambo.
Dizia no meu signo que devia evitar gastos supérfluos e ter mais cuidado com a saúde.
Será que o professor Bambo é a minha mãe?

Tal como o ovo e a galinha, não sabemos o que veio primeiro, se a ficção ou a realidade.
No “Espaço 1999” a Lua separava-se da Terra e andava à deriva pelo espaço.
Em 2021, o covid 19 separou-nos do bom senso e agora andamos à deriva na Terra.

Apesar do sucesso de algumas séries de TV outras houve que foram um total fiasco:
assim que lançaram o Homem-Aranha acabou-se o reinado do Super-Mosca,
e o romântico Capitão Vela foi apagado pelo implacável General Eléctrico.

Poucas pessoas sabem mas o movimento do 25 de Abril esteve quase para ser abortado.
Na estação de rádio o locutor que devia pôr “Grândola Vila Morena” chegou atrasado,
e por pouco o estagiário de serviço não lançava no ar “Ora zumba na caneca”.

O sucesso, da mesma forma que o amor, tem de ser cuidado e regado diariamente,
é preciso paciência e persistência, senão vejam o exemplo da Carmen Miranda: 
Em pequena tinha sementes na cabeça, em jovem flores, e em adulta é que lhe apareceram as frutas.

Nem sempre a realização de objectivos é imediata, só nos restando porfiar.
A primeira vez que se usou o tele-transportador na Enterprise não funcionou bem:
o comandante ficou com as orelhas do Spock, o Spock com as mamas da Uhura, e a lógica desapareceu algures.

Enquanto a trompa de Falópio transporta o óvulo até à cavidade do útero, 
e a trompa de Eustáquio liga o ouvido à faringe, 
a trompa de Ambrósio anuncia que tomou a liberdade de pensar em Ferrero Rocher.

*Músico e embaixador do Plataforma

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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