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Cabo Delgado: Mudanças na chefia das Forças Armadas sinalizam desejo de inflexão

Analistas disseram à Lusa que a mudança da chefia do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique sinaliza o desejo de “uma inflexão” na guerra em Cabo Delgado e de atribuir “maior protagonismo” ao Exército.

Calton Cadeado, especialista em Paz e Conflitos na Universidade Joaquim Chissano, instituição estatal, considerou que, ao indicar um novo chefe e vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), o Presidente Filipe Nyusi pretende uma “inflexão na estratégia” de combate aos grupos armados que atuam na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.

“Pode inferir-se que o chefe de Estado, que é também comandante em chefe das FADM, quer uma maior acutilância no combate aos grupos armados em Cabo Delgado, quer uma ação militar mais assertiva”, declarou Cadeado.

O académico recordou que o novo chefe do Estado-Maior General das FADM, Eugênio Mussa, era até à sua tomada de posse, na quarta-feira, o responsável militar máximo do Comando Operacional Norte e nessa ​​​​​​​função conseguiu conter o avanço territorial dos grupos armados que atuam na região.

“Não obstante a grave crise humanitária causada pela ação da violência armada, no plano militar, as informações que se conseguem extrair de dentro do Exército é que com a chegada de Eugênio Mussa no teatro operacional norte foi possível conter, ainda que de forma modesta, o ímpeto dos grupos armados”, enfatizou.

Calton Cadeado questionou o acerto da decisão de tirar Eugênio Mussá da direção da guerra em Cabo Delgado para a chefia do Estado-Maior General, alertando para o risco de este dirigente militar dispersar as suas energias com as novas tarefas.

“Os ganhos que se reportam na perseguição aos grupos armados foram possíveis porque ele estava concentrado nas operações em Cabo Delgado, a questão que se coloca é se irá manter esse ímpeto estando em Maputo, com responsabilidades mais acrescidas e dispersas”, destacou.

Ivan Mazanga, formado em Diplomacia pelo ex-Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI), atual Universidade Joaquim Chissano, vê também na mudança das chefias militares um sinal de maior protagonismo da direção das FADM na guerra em Cabo Delgado em detrimento do comando-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM).

“O que se depreende é que a ascensão de um militar da estatura de Eugênio Mussa a chefe do Estado-Maior General é no sentido de conceder maior relevo à chefia das FADM nas ações de combate em Cabo Delgado”, afirmou.

Mas, alertou, a mudança deve ser acompanhada por um reforço do apoio logístico às forças no terreno e à eficácia da recolha de informação militar, para que o combate aos grupos armados seja eficaz.

Mazanga considerou que “as dificuldades na guerra em Cabo Delgado não se devem à impreparação dos homens e mulheres destacados no terreno, mas a disrupções de ordem logística e a falhas na recolha de informação com utilidade operativa”, enfatizou.

O Presidente moçambicano deu posse na quarta-feira a Eugênio Mussa como ​​​​​​​novo chefe do Estado-Maior General das FADM e a Bartolino Capitine como vice-chefe.

Na ocasião, Filipe Nyusi apelou às FADM para terem uma “atenção acrescida” na defesa dos projetos de gás natural na província de Cabo Delgado, considerando a restauração da paz como um “desafio imediato”.

Um dos desafios das FADM é “defender com garra todas as infraestruturas e projetos económicos em curso ou a ser desenvolvidos em todo o território nacional, olhando com uma atenção acrescida aos que ocorrem na península de Afungi”, prosseguiu o chefe de Estado moçambicano.

A península de Afungi, na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, acolhe o maior projeto de investimento privado no continente africano destinado à exploração de gás natural.

A violência armada em Cabo Delgado, norte de Moçambique, está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico desde 2019, mas a verdadeira origem da insurgência continua sob debate.

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