Covid-19: Cadeias de transmissão em Portugal sem controlo

por Guilherme Rego
Ana Mafalda Inácio

O confinamento já é dado como inevitável, mas o presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública diz que não basta.

É preciso o reforço de recursos humanos prometido para se travar cadeias de transmissão, pois “só assim se evita mais infetados”. Na medicina intensiva, o médico Pedro Póvoa defende o confinamento, não pelo SNS, mas para que as pessoas sejam bem tratadas.

Em sete dias, Portugal registou 56 435 novos casos de covid-19 e 685 mortos, muito mais do que nos primeiros meses de pandemia. Os números não deixam margem de manobra e algo tem de ser feito. O confinamento parece ser inevitável, o governo já o admitiu, depois da ronda com os partidos, e o Presidente da República também.

Na quarta-feira o parlamento deverá aprovar um novo confinamento total, depois de o assunto ter sido mais uma vez debatido em reunião com peritos no Infarmed. Há quem esteja no terreno e que defenda que já deveria ter sido tomada uma decisão sobre o que fazer, não só pelos números desta última semana como pela realidade já admitida pelas unidades hospitalares, algumas já na linha vermelha do seu plano de contingência e sem capacidade para receber mais doentes.

Ao DN, antes da reunião de amanhã na qual mais uma vez o governo vai ouvir os peritos da saúde pública e da medicina intensiva, dois médicos, um epidemiologista e presidente da Associação Portuguesa de Médicos de Saúde Pública (APMSP), Ricardo Mexia, e um intensivista, coordenador da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital São Francisco Xavier, Pedro Póvoa, falam das suas perspetivas e o que iriam dizer se estivessem no encontro no anfiteatro do Infarmed.
O médico de saúde pública defende que “o confinamento não pode ser a solução, é sim uma das soluções no combate à pandemia”, argumentando que “não basta meter as pessoas em casa, é preciso comunicar, é preciso dizer às pessoas o que podem ou não fazer, e reforçar as equipas de saúde pública para que seja possível fazer os inquéritos epidemiológicos em tempo útil”. “Só assim conseguimos evitar que mais pessoas sejam infetadas”, frisa.

Já para o médico intensivista, agora a solução parece ser o “confinamento e vacinar, vacinar, vacinar”. Mas Pedro Póvoa sustenta que quando fala em confinamento não é para a salvaguarda do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas das pessoas, de quem for infetado e precisar de cuidados. “Há que inverter a afirmação quando se explica para que serve o confinamento. A questão não é os profissionais trabalharem menos ou mais, mas sim as pessoas, o poder tratar-se todos os que forem infetados da melhor forma e com a melhor resposta.”

Ricardo Mexia, que desde o início da pandemia tem vindo a reivindicar mais recursos para a área da saúde pública, diz ser “exasperante andar a dizer o mesmo há dez meses”, mas a verdade, sublinha, é que esse reforço nunca chegou às unidades. E se já não havia capacidade para concluir os inquéritos epidemiológicos – que são a única forma de se travar as cadeias de transmissão e impedir que mais pessoas fiquem infetadas – com os números que tínhamos antes do Natal, “agora muito menos”.

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