Microplásticos já estão presentes antes do nascimento de um bebé

por Filipa Rodrigues
Redação, com DN

Um novo estudo realizado em Itália detetou pela primeira vez a presença de microplásticos em placentas durante a gestação. Embora o efeito destas partículas no corpo humano seja desconhecido, os investigadores acreditam que seja prejudicial para o desenvolvimento do feto a longo prazo.

Os pesquisadores recolheram amostras das placentas de seis mulheres voluntárias. As amostras de cada uma das mulheres correspondiam a cerca de 4 por cento da placenta – orgão responsável pela transmissão de nutrientes da mãe para o bebé.

Para encontrar os fragmentos, os investigadores utilizaram colorações que se prendem às partículas de plástico e, depois, passaram essas análises por um tipo de espectroscópio – equipamento que deteta e diferencia ondas de luz refletidas. Através desse processo, conseguiram detetar 12 partículas de microplásticos nas amostras de quatro das seis placentas. Duas das partículas encontradas tinham menos de 5 milímetros – sendo efetivamente microplásticos – e o resto tinha menos de 10 milímetros, que já não consideradas microplásticos. É importante realçar esta distinção de dimensões, dado que os microplásticos podem entrar na corrente sanguínea e, consequentemente, alastrar para o resto do corpo.

Os resultados obtidos em apenas 4 por cento daquele órgão, revelam que estes químicos podem estar presentes no resto da placenta. Os membros da equipa de investigação enaltecem que os microplásticos podem acabar no corpo da criança, podendo causar problemas sérios ao desenvolvimento do feto, sobretudo se ocorrer nos primeiros estágios da formação do embrião.

Apesar de não conseguirem analisar o corpo dos bebés para verificar a presença de plásticos, garantem que a descoberta é preocupante e que serão necessários mais estudos para concluir
a gravidade dos possíveis danos.

“Devido ao papel crucial da placenta no apoio ao desenvolvimento do feto e na atuação como interface com o ambiente externo, a presença de partículas plásticas potencialmente nocivas é motivo de grande preocupação”, apontaram, realçando também que é necessária uma avaliação urgente da situação.

“É como ter um bebé ciborgue: já não composto apenas de células humanas, mas com uma mistura de entidades biológicas e inorgânicas”, explicou Antonio Ragusa, líder da investigação e diretor de obstetrícia e ginecologia no Hospital San Giovanni Calibita Fatebenefratelli, em Roma.

Especialistas alertam que as partículas não foram encontradas em duas das mulheres do estudo, o que pode estar relacionado com diferentes fisiologias, dietas ou estilos de vida. “Os bebés estão a nascer pré-poluídos. O estudo é muito pequeno mas, no entanto, assinala uma preocupação muito acentuada”, admitiu Elizabeth Salter Green, da instituição de caridade Chem Trust.

Mas como é que os microplásticos vão parar ao corpo humano? Os plásticos são polímeros, o que significa que são constituídos por uma cadeia de várias moléculas que formam o material como um todo. Atualmente, o plástico está presente em larga escala no dia-a-dia, desde pequenas embalagens e sacos, até à tecnologia de ponta. A poluição marinha por plásticos é um grave problema global. Estima-se que, anualmente, oito milhões de toneladas desses resíduos cheguem aos oceanos.

A título de exemplo refira-se que um estudo divulgado pela organização não-governamental Oceana, o Brasil é responsável, por pelo menos, 325 mil toneladas de resíduos de plástico que
são levados para o mar a partir de fontes terrestres, tais como lixos a céu aberto
e despejos inadequados.

Uma vez na água, o material passa por vários processos de erosão. A luz do sol, ondas, areia e outros fatores contribuem para a divisão do plástico em pedaços cada vez menores até se tornarem microplásticos. Essas mesmas partículas passam pelos filtros dos sistemas de abastecimento de água e podem chegar à água que usamos nas lides domésticas e para consumo. Mas a contaminação não acaba aí, está também na nossa comida.

De acordo com investigadores das universidades de Hull e York, no Reino Unido, que analisaram mais de 50 estudos produzidos entre 2014 e 2020 para aferir os níveis de contaminação por microplástico no mundo, em peixes, crustáceos e moluscos, as partículas estão presentes nos animais que consumimos, sobretudo nos moluscos.

“Os microplásticos foram encontrados em vários órgãos, como intestinos e fígado. Moluscos como ostras, mexilhões e vieiras são consumidos inteiros, enquanto os peixes maiores apenas uma parte”, afirmou, citado em comunicado da Universidade de York, um dos autores do trabalho, Evangelos Danopoulos.

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