Início » Pior é possível…

Pior é possível…

Arsénio Reis*

Tinha um professor de matemática, na antiga escola preparatória, que me dizia que as coisas podem sempre piorar. Durante muito tempo assumi que era uma espécie de ameaça. Nunca fui grande aluno a matemática e achava que ele me alertava para isso. Um dia percebi que não. Que falava do mundo em geral. Foi quando me disse “sabes rapaz, eu ia para a escola descalço e isso não foi assim há tantos anos”. Percebi o que dizia e imaginei que isso também terá acontecido com o meu pai.

Vem isto a propósito das notícias da nova estirpe Covid que surgiu no Reino Unido. Uma estirpe altamente contagiosa (70% mais) e desconhecida até ao momento.

Os países vizinhos já limitaram os acessos de cidadãos britânicos e os voos para a Europa estão de tal forma limitados que Boris Johnson, o primeiro-ministro daquele país, convocou na última noite uma reunião de emergência de um gabinete de crise para discutir como garantir fornecimentos.

Vejam que até agora nem sequer falei da situação económica…essa não sei se mete medo a todos, mas afigura-se medonha.

A Pandemia já nos tinha retirado parte das nossas liberdades. Já nos tinha roubado familiares e amigos, os afetos, a proximidade, o convívio. Remeteu-nos a casa e percebemos que o espaço público passou a ser um inimigo público.

Deixamos de ler lábios e passamos a ler olhos, são quase a única parte do rosto que a máscara nos deixa a descoberto. Não há ajuntamentos. Não porque qualquer ditador tema que mais de 10 estejam a congeminar um golpe de estado, mas por causa do estado em que podemos deixar os outros, incluindo os que nos são mais queridos.

Também houve momentos de união e de superação. Vem aí a Vacina, dizem que chega para a semana, será bem-vinda, mas duvido que alguém possa garantir que ela também combate esta nova espécie de vírus. Não lhe vou chamar o vírus britânico. Não sei se tem passaporte, mas quase aposto que é bom a cruzar fronteiras.

Um dos poucos momentos de união do ano, o Natal, adoeceu, não veio com a mesma alegria de tantos outros anos. A festa da família vem de braço dado com o medo. O medo de sair de casa, o medo de estarmos juntos, o medo de fazermos mal aos mais velhos.

Vejam que até agora nem sequer falei da situação económica…essa não sei se mete medo a todos, mas afigura-se medonha.

Não queria que os meus filhos fossem para a escola descalços…é só isso.

*Diretor do Plataforma

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!