A loucura normal

por Filipa Rodrigues
Paulo RegoPaulo Rego*
Paulo Rego

Intuiu a Grécia clássica: o Homem move-se por três ordens de razão: glória, interesse e medo. Inventou-se, entretanto, o altruísmo, a solidariedade… e uma série de comportamentos e valores que constroem uma ética menos animal. Mas rareiam, porque são de natureza. Em tempos de crise mal se veem; em mudanças drásticas de ciclo perde-se-lhes rasto. Impera o medo de perder o poder, a reputação e a glória. O interesse engana; leva a maioria a resistir, impedir a mudança; combater o que aí vem e não nos pertence. 

Como o futuro chega sempre, resta depois virar a casaca, tonitruar o que aí vem, servir os mestres do novo mundo poder, que distribuem interesses e novos medos… é um ciclo vicioso, escrito nas estrela. Cansativo. Pode o padrão mudar? Ser quiçá virtuoso? Pode, mas não muda. Mudam quiçá pessoas, grupos, contextos…. Mas a mole humana é feita da estirpe resistente. 

No novo ciclo que se anuncia, de forma tão radical, o medo de se perder aquilo que sempre se foi – ilusoriamente eterno – ganha contornos de esquizofrenia. É vê-los fazer a prova de que são tudo o aquilo que sempre negaram. É inglório: expõe, fragiliza, mata mesmo a energia que ilumina o novo caminho.

Em cima deste desespero, o isolamento social e a angústia são mais assustadores. Paralisam, arrepiam. 

Por isso a realidade e a narrativa são hoje tão diferentes. A estória que se conta não é o conto da História – é, aliás a sua negação. Estes são tempos de enorme exigência. A verdade dói, nega-se, esconde-se. Porque mete medo ao susto. Mas é com ela que vamos viver. E quem a nega, para lá da sanidade… engrossa a lista que o futuro rejeita.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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