“Universidade da jihad” no Paquistão tem orgulho de ex-alunos talibãs

por Guilherme Rego
Sajjad Tarakzai e David Stout/AFP

Darul Uloom Haqqania formou alguns dos principais líderes daquele movimento fundamentalista islâmico

Com um largo sorriso, Maulana Yusaf Shah recita a lista de ex-alunos da “universidade da jihad” que se tornaram chefes talibãs, e os seus olhos brilham ao evocar as suas vitórias contra potências estrangeiras nos campos de batalha afegãos.

Da madrassa Darul Uloom Haqqania, vieram alguns dos principais líderes talibãs. Alguns deles negociam um acordo de paz com o governo afegão, em Doha, desde setembro para encerrar 20 anos de guerra. 

“A Rússia foi varrida por estudantes e graduados de Darul Uloom Haqqania, e os Estados Unidos também foram destruídos. Estamos orgulhosos”, diz Shah, um influente dignitário da madrasa. Localizada em Akora Khattak, 110 quilómetros a noroeste da capital Islamabad, a madrassa acolhe cerca de quatro mil alunos, que são educados, alimentados e vestidos gratuitamente. 

Milhares de paquistaneses e refugiados afegãos foram educados ali, muitos dos quais voltaram ao seu país para lutar contra os russos e depois contra os americanos, ou para proclamar a guerra santa. Apesar da sua reputação polémica, a escola tem contado com o apoio do Paquistão, país onde os principais partidos políticos têm laços estreitos com fações religiosas. 

Este mês, os responsáveis pela madrassa gabaram-se num vídeo publicado nas redes sociais de apoio à insurreição dos talibãs no Afeganistão, atraindo críticas do governo de Cabul, que enfrenta um aumento da violência no país quando os Estados Unidos se preparam para retirar tropas. 

Instituições como a Haqqania “geram jihadismo radical, produzem talibãs e ameaçam o nosso país”, disse à AFP, Sediq Sediqqi, porta-voz do presidente afegão, Ashraf Ghani. Para o governo afegão, o fato de o Paquistão fechar os olhos às madrassas mostra o seu apoio aos talibãs.

Considerado “pai dos talibãs”, Shah rejeita a ideia de que a madrassa encoraje a violência, mas defende o direito de atacar tropas estrangeiras. “Se uma pessoa entrar na sua casa e te ameaçar (…) sem dúvida você vai defender-se com uma arma”, compara. 

O ex-diretor da madrassa Sami ul-Haq gabou-se de ter aconselhado o fundador do talibãs, Mullah Omar, o que lhe valeu o apelido de “pai dos talibãs”. Depois, Haq enviou estudantes de Haqqania para lutar nas fileiras do movimento fundamentalista, quando o grupo convocou as armas na década de 1990 antes de assumir o poder em Cabul em 1996. 

A origem do nome do movimento Haqqani, que realiza as mais violentas operações dos talibãs, vem justamente da escola, onde estudaram o seu fundador e seus sucessores. Vários extremistas paquistaneses, que posteriormente atacaram o seu próprio país, mantiveram laços com a madrassa, incluindo o assassino da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, assassinada em 2007.

Haqqania “está no coração de uma das redes radicais sunitas mais importantes e influentes”, observa o analista Michael Semple, que afirma que parte dos seus graduados afegãos podem mais tarde ocupar altos cargos dentro dos talibã.

O especialista, porém, descarta a ideia de que a madrassa seja uma “fábrica terrorista” onde os alunos recebem treinamento militar, ou que ela influencie nas opções estratégicas dos grupos armados. Na verdade, a sua principal contribuição para a insurreição são os laços forjados nas suas salas de aula. 

As madrassas radicais receberam dinheiro na década de 1980, quando se tornaram o foco da guerra contra uma guerra apoiada pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita. E, desde então, têm um relacionamento próximo com os serviços de inteligência do Paquistão.

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