Vacinar o futuro

por Arsenio Reis
Arsénio Reis*

A notícia que todos esperávamos foi dada nos últimos dias. A PFizer e a BioNTech, empresas associadas na busca de uma vacina contra a Covid-19, anunciaram que até ao final do ano terão uma, com 90% de eficácia.

Há outras vacinas a caminho que podem ter resultados idênticos. Esperemos que cheguem – o mais rapidamente possível – a todos os países e a todas as pessoas em igualdade de circunstâncias.

Um ano depois de comunicada a existência do primeiro caso de uma doença que provou ser pandémica, o anúncio de uma vacina criou uma expectativa positiva em todo o mundo. O que desde logo se refletiu por exemplo numa subida das principais bolsas mundiais.

A hipótese de um regresso à normalidade anima todos os que têm estado sujeitos a medidas severas. Voltamos a acreditar no fim do recolher obrigatório, das restrições ao convívio ou seja da manutenção do distanciamento social e na possibilidade de voltar a tirar a máscara, para dar apenas alguns exemplos.

Ansiamos por voltar a trabalhar normalmente, ir à escola normalmente e usar os transportes públicos, bem como os restantes serviços públicos, como sempre o fizemos.

Mas esta seria uma boa oportunidade para não nos limitarmos todos a regressar à normalidade. Seria bom aproveitarmos para mudarmos a forma como todos vivemos, passando a respeitar mais os sinais que o mundo nos dá, sobretudo a natureza.

Agora que o anúncio da vacina nos permite voltar a semear a esperança num mundo melhor devíamos todos voltar as ideias de Gonçalo Ribeiro Telles

Nem de propósito, faleceu esta semana, em Portugal, o arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles. Considerado um visionário, um poeta da paisagem, foi um incansável defensor das causas ecológicas. Sempre empenhado em superar a dicotomia entre a cidade e o campo, luta que encarava não como opção, mas como a única forma de termos futuro, de sobrevivermos.

Esteve pouco tempo na política. Apenas o suficiente para nos deixar como legado coisas tão importantes como a Reserva Agrícola Nacional (RAN) ou a Reserva Ecológica Nacional (REN).

Gonçalo Ribeiro Telles assumiu o ambiente como causa. Não política, mas de vida. E na luta por essa causa não teve hesitações nem cedências. Conversei com ele apenas duas ou três vezes, o suficiente para perceber que, na sua opinião, a nossa obrigação era ajudar a cuidar do ambiente e não apenas servirmo-nos dele.

Agora que o anúncio da vacina nos permite voltar a semear a esperança num mundo melhor, devíamos todos voltar às ideias de Gonçalo Ribeiro Telles. Essa seria uma boa vacina para o nosso futuro coletivo.

*Diretor do Plataforma

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