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Politécnico de Macau quer mais cooperação internacional

João Carreira

O novo coordenador do Centro Internacional Português de Formação do Instituto Politécnico de Macau (IPM) assumiu a função com um caderno de encargos que procura responder a crescentes exigências que vão da integração na China à criação de redes sino-lusófonas e de cooperação internacional

Uma cooperação que vai muito para lá da formação académica, sublinhou Joaquim Ramos de Carvalho, que aproveita para esclarecer o âmbito da missão que encontra agora em Macau, vindo de Portugal: “O que me pediram foi que ajudasse a diversificar um pouco mais a oferta, para lá do âmbito mais estrito da formação de professores de língua portuguesa e de ensino”.

Em 1960, 18 alunos estrearam o primeiro curso de licenciatura em língua portuguesa na China, pela mão do Instituto de Radiodifusão de Pequim, agora Universidade de Comunicação da China, uma espécie de berço da aposta chinesa no ensino de português, num país com afinidades culturais e interesses comerciais e económicos no mundo lusófono. 

Este mês, 60 anos e muitos milhares de alunos e professores depois, o novo coordenador chega ao antigo território administrado por Portugal, Macau, e agora região administrativa especial chinesa, para ajudar a instituição a “diversificar aquilo que tem sido o investimento e o empenho (…) na língua portuguesa, e em ser um agente importante na ligação entre a China e os países de língua portuguesa, dentro da área académica”.

Ou seja: “Ver como é que passamos da questão da língua para a criação de redes especializadas nas áreas em que há convergência de interesses e de oportunidades comuns”, dando “continuidade ao investimento feito pelo IPM”, que se tem assumido como “um grande dinamizador do ensino de língua portuguesa na China”, salientou Joaquim Ramos de Carvalho.

O ex-vice-reitor da Universidade de Coimbra traz na mala algumas vitórias conquistadas numa instituição cujas ligações sino-lusófonas foram fortalecidas ao longo dos anos, com um destaque para as parcerias com o IPM.

“A minha experiência foi de estar do outro lado e fazer os contactos com a China. Acho que em Coimbra conseguimos coisas importantes. Conseguimos o Instituto Confúcio especializado em medicina tradicional chinesa, um centro da Academia das Ciências Sociais da China” e outra “dedicada às relações, sobretudo na área do direito entre a China e os países de língua portuguesa”, lembrou.

Contudo, o responsável fez uma ressalva, para esclarecer o pragmatismo que se exige às funções que exerce há pouco menos de duas semanas em Macau: “Às vezes é muito fácil reitores e presidentes assinarem acordos, mas depois, para que se implemente, é preciso chegar às pessoas que têm mais responsabilidades operacionais e que precisam de informação, de contactos e de um ambiente propício para surgirem ideias e projetos”.

Um dos grandes desafios de Macau, estrategicamente também assumido pelo IPM, passa pela integração na Grande Baía, o projeto de Pequim de criação de uma metrópole mundial que vai “fundir” o território com Hong Kong e nove cidades da província chinesa de Guangdong. Uma oportunidade à medida de uma região com cerca de 70 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) que ronda os 1,1 biliões de euros, maior do que o PIB da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20.

Oportunidades ao nível da formação, e não só, que exigem a partilha de informações a um nível global, em sintonia com papel de plataforma que tem vindo a ser assumido há muito pelo antigo território administrado por Portugal: “Por exemplo, dar a conhecer exatamente o que é a grande iniciativa da Grande Baía. O que é, o que isso implica, o que é que isso significa. Que papel é que Macau tem dentro dessa iniciativa, que oportunidades é que pode criar. Acho que isso é algo que muita gente dentro das instituições de ensino superior do mundo que fala português gostaria de ter acesso”.

“Macau é, do meu ponto de vista, (…) um dos locais mais fascinantes do planeta desse ponto de vista, de ter um lugar muito especial nessa grande rede de ligações globais do mundo”, caracterizou o académico.

O IPM tem-se assumido como “um grande dinamizador do ensino de língua portuguesa 
na China”

Para o IPM, sustentou, a estratégia para o centro que agora coordena passa por “especializar e diversificar, dar mais oportunidades de trocas de informação, de pequenas formações, de melhor conhecimento, de criação de redes em áreas que não sejam exclusivamente da língua, mas que são ativadas por haver cada vez mais pessoas que falam português e chinês, e mais oportunidades dentro desta grande lógica de incremento das ligações da China com os países de língua portuguesa”.

“Há muita necessidade de informação. Falo da minha experiência. Não só de Portugal e de Coimbra, mas em geral, até da própria Europa, porque tive muita atividade dentro de redes europeias de universidades. Embora aí existam países que estão muito mais desenvolvidos do que outros. Mas há muita falta de informação real sobre o que acontece aqui nesta região”, explicou.

Joaquim Ramos de Carvalho observou isso em muitas áreas: “Formação de quadros de universidades, de pessoas responsáveis nas relações internacionais das universidades dos países de língua portuguesa saberem mais as oportunidades que existem e, também, do lado chinês, saber mais como aceder aos circuitos de inovação, criação de empresas, de relações interacademia e universidades”, bem como na “criação de empresas, (…) aspetos que cada vez mais as instituições de ensino superior têm de pensar globalmente”.

Da medicina tradicional chinesa (uma das apostas de Pequim assumida por Macau, com impacto e penetração no mundo lusófono), do Direito (cujo ADN português está presente em praticamente todo o edifício jurídico do território), até à economia ‘azul’ (relacionada com a exploração e preservação do meio marinho) as necessidades de cooperação estão aí para serem aproveitadas, defendeu: “A questão da economia azul, Portugal está num processo que pode culminar como sendo um dos países com uma das maiores plataformas marítimas, é um processo que está em discussão, e a nível internacional também haverá grande interesse aqui, desta região em incrementar isso”.

Um interesse ao qual o IPM não deverá fugir, pela sua “tradição académica” e pela história secular de Macau, um “espaço pequeno” com “uma diversidade e uma espessura histórica que (…) com altos e baixos e variações próprias de diferentes épocas, sempre foi um local de contacto, de fusão e de ponte, no sentido em que sempre gente de muito sítio chegou aqui vindo do ocidente para partir daqui e ir para muitos sítios dentro da China e da região de maneira mais global”. 

“E esse papel renova-se, é fascinante”, frisou, recordando, enquanto historiador, o papel de Macau como ponte de vários ‘mundos’, agora a integrar-se numa mega metrópole chinesa “que já atrai uma quantidade de talentos internacionais enormes (…), onde muitas empresas estão a incubar” em vez dos “locais tradicionais ocidentais”.

Ou seja, resumiu: “Acho que isso é um processo que, inevitavelmente, interessa os países de língua portuguesa”, até porque “vai ser uma coisa muito grande”. 

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