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‘Todos’ vencem nas autárquicas mas partido no poder sujeito a nova pressão

Paulo Julião

O ciclo eleitoral em Cabo Verde iniciou-se no passado domingo com os dois principais partidos, MpD e PAICV, a reclamarem vitória nas oitavas eleições municipais realizadas no arquipélago africano, o primeiro com mais câmaras e o segundo a conquistar os bastiões ao opositor

A votação decorreu domingo, com uma abstenção de 41,6 por cento, e só mais de seis horas depois do encerramento das urnas, numa contagem que decorreu quase voto a voto em várias mesas, surgia a primeira declaração de vitória.

Pela voz da líder, Janira Hopffer Almada, o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) anunciava, já na madrugada de segunda-feira, a reconquista da emblemática câmara da capital, a cidade da Praia, ao Movimento para a Democracia.

“É uma grande vitória dos praienses e da humildade e a vontade de fazer mais e melhor pela Praia”, atirava, perante o entusiasmo de centenas de militantes que, alheios às recomendações das autoridades sanitárias devido à transmissão da covid-19, festejavam nas ruas.

“Dos resultados provisórios, as candidaturas do PAICV venceram em oito municípios”, acrescentava Janira, que tenta o regresso do partido histórico de Cabo Verde ao Governo, que exerceu pela última vez no período de 2001 a 2016, para júbilo dos apoiantes. 

O resultado de domingo para o PAICV traduziu-se num aumento de seis câmaras, face às eleições municipais de 2016 e fez resultar o equilíbrio de forças entre os dois partidos que há 30 anos comandam os destinos de Cabo Verde, aos níveis de 2012.

Do outro lado, o Movimento para a Democracia (MpD) foi adiando um comentário aos resultados, que se foram agravando para o partido a cada hora que a contagem de votos avançava. No final, o MpD continua a ser o maior partido autárquico em Cabo Verde, mas passou de 18 para 14 câmaras. 

O líder do MpD, e primeiro-ministro desde 2016, Ulisses Correia e Silva, falou apenas ao início da manhã de segunda-feira, para justificar a surpresa da perda da capital para o PAICV.

“Iremos fazer a nossa análise dos resultados. Uma coisa que posso apontar é que creio que houve excesso de confiança, estávamos convencidos – assim como a maior parte de Cabo Verde – de que iríamos ter uma vitória na Praia, mas não faço projeções neste momento”, afirmou Ulisses Correia e Silva, confirmando que vai convocar uma reunião da comissão política nacional para analisar o desempenho do partido.

Mas se o discurso oficial é que o MpD continua a ser o maior partido autárquico, a cinco meses das eleições legislativas, que deverão acontecer em março de 2021, a perda de bastiões municipais para o eterno rival político e outros em que o partido deixou de ter maioria, como em São Vicente, segundo maior município do país, fez tocar o sinal de alarme.

“Estes resultados são uma motivação adicional para reforçarmos a ação política”, afirmou o líder do MpD, insistindo em separar autárquicas e legislativas, por serem votações “diferentes”.

Ulisses Correia e Silva defendeu, ainda assim, que é preciso “começar já a preparar a nova fase” do partido, mas em simultâneo “focar-se na governação” do país, num contexto de crise sanitária e económica provocada pela pandemia de covid-19 e uma recessão sem precedentes, face à ausência de turismo, que garante 25 por cento da riqueza nacional.

Defendeu também que deve ser dada uma oportunidade aos vencedores, criando condições para esse efeito.

Para esta votação estavam inscritos 337.083 eleitores, distribuídos por 1.386 mesas de voto em todo o arquipélago, um aumento de 34.073 eleitores (+11 por cento) face às eleições municipais anteriores, em 2016. 

Legislativas até março e presidenciais até setembro

O ciclo eleitoral iniciado com as eleições municipais continua em 2021 com as sétimas eleições legislativas, seguidas das presidenciais. Em praticamente 30 anos de abertura à democracia, o país já realizou 20 eleições nacionais, invariavelmente dividas entre MpD e PAICV.

O presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, afirmou no domingo esperar que em 20 de outubro do 2021, dia em que termina o mandato, o país já tenha um novo Presidente eleito, calendário que condicionará a marcação das eleições legislativas.

Questionado no domingo, depois de votar para as autárquicas na Praia, sobre a marcação das próximas legislativas, o chefe de Estado, que cumpre o segundo e último mandato, explicou que já está a estudar o calendário eleitoral de 2021.

“As eleições presidenciais têm de decorrer seis meses após as legislativas e vou ter em conta, não escondo, que o atual mandato termina a 20 de outubro de 2021. Portanto, tudo farei para que não exerça nem um dia após o termo do mandato”, afirmou.

As últimas eleições legislativas em Cabo Verde aconteceram em 20 de março de 2016 e as presidenciais, que reconduziram o advogado e constitucionalista Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República, realizaram-se em 02 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74 por cento dos votos).

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