Oceanos mais estáveis podem originar consequências terríveis

por Filipa Rodrigues
Kelly Macnamara*

O aquecimento global está a tornar os oceanos mais estáveis, aumentando as temperaturas da superfície e a reduzir o carbono que podem absorver, indica uma investigação recém-publicada por cientistas. O documento alerta que esta descoberta tem implicações “profundas e preocupantes”. 

As mudanças climáticas causadas pela ação humana levaram ao aumento das temperaturas da superfície em todo o planeta, originando instabilidade atmosférica e amplificando eventos climáticos extremos, como tempestades com elevado poder destrutivo. 

Mas, nos oceanos, as temperaturas mais altas têm um efeito diferente, desacelerando a mistura entre a superfície mais aquecida e as águas mais abaixo, mais frias e ricas em oxigénio, aponta o estudo. 

Esta “estratificação do oceano” significa que há menos águas profundas a subir à superfície, transportando oxigénio e nutrientes, levando a que as águas à superfície absorvam menos dióxido de carbono atmosférico para o levarem para zonas mais profundas. 

Num artigo publicado na revista Nature Climate Change, a equipa de investigadores anunciou que descobriu que a estratificação global aumentou “uns substanciais” 5,3 por cento, entre 1960 e 2018. A maior parte dessa estabilização ocorreu em direção à superfície e foi atribuída, essencialmente ao aumento da temperatura. 

O processo, esclareceram, também é exacerbado pelo degelo das calotes polares, significando que mais água doce – que é mais leve que a salgada – se acumula na superfície do oceano. O co-autor do estudo, Michael Mann, professor de ciências climáticas da Pennsylvania State University, considerou que a “descoberta, aparentemente técnica, tem implicações profundas e preocupantes”.

Com as águas superiores mais quentes e a receberem menos oxigénio, também há implicações para a vida marinha.

Os mares tornaram-se ácidos, minando potencialmente a capacidade de absorver carbono (CO2). As águas superficiais mais quentes expandiram a força e o alcance das tempestades tropicais com forte impacto destruidor.

No ano passado, uma pesquisa publicada nos Proceedings of the National Academy of Sciences dos EUA calculou que as mudanças climáticas eliminariam do oceano quase um quinto de todas as criaturas vivas, medidas em massa, até ao final deste século. 

*Editada

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