França abre perseguição a movimentos islâmicos depois de decapitação de professor

por Rute Coelho
Alexandre Hielard

Está em curso uma vasta operação policial contra movimentos islâmicos em França após a decapitação, na sexta-feira, de um professor de História que foi vítima de uma fatwa (decreto islâmico), por mostrar aos seus alunos caricaturas de Maomé

Os alvos da operação são “dezenas de indivíduos que não têm necessariamente um vínculo com a investigação”, mas para quem o governo “obviamente quer enviar uma mensagem”. “Não será dado um único minuto de trégua aos inimigos da República”, afirmou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, à rádio Europa 1. 

Segundo uma fonte próxima ao caso, tratam-se de suspeitos que já têm ficha nos serviços secretos pelas suas mensagens radicais e de ódio nas redes sociais. 

Desde a decapitação de Samuel Paty, que ensinava História e Geografia numa escola do ensino médio em Conflans Sainte-Honorine, oeste de Paris, “mais de 80 investigações” foram abertas contra “todos aqueles que, de forma apologética, disseram de uma forma ou de outra que esse professor tinha merecido (o assassinato)”, disse Darmanin, que citou várias detenções. 

O assassinato de Samuel Paty chocou a França. Milhares de pessoas manifestaram-se no país no domingo em defesa da liberdade de expressão e para dizer não ao “obscurantismo”, enquanto o presidente Emmanuel Macron convocou um conselho de defesa à noite. Macron prometeu que “o medo mudará de lado”. “Os islamitas não vão poder dormir em paz no nosso país”, asseverou o chefe de Estado.

No final de uma reunião de duas horas e meia com o primeiro-ministro, Jean Castex, cinco ministros e o procurador antiterrorista Jean-François Richard, Macron anunciou um “plano de ação” contra “estruturas, associações ou pessoas próximas a círculos radicalizados” que propagam convocações ao ódio. 

Segundo o ministro do Interior, Gérald Darmanin, 51 associações “vão receber várias visitas dos serviços do Estado ao longo da semana e várias delas (…) serão dissolvidas pelo Conselho de Ministros”. 

O ministro quer, em particular, dissolver o Coletivo contra a Islamofobia na França (CCIF) – “um certo número de elementos que nos levam a crer que é um inimigo da República” – assim como a associação humanitária Baraka City, fundada por muçulmanos da linha salafista.

– “Fatwa” –

O ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, convocou com urgência os procuradores na manhã desta segunda-feira para, segundo o seu entorno, garantir “uma colaboração perfeita com os prefeitos e as forças de segurança interna na aplicação e seguimento das medidas exigidas pela situação”. 

O ministro do Interior também acusou o pai de uma estudante de Conflans Saint-Honorine e o militante islâmico radical Abdelhakim Sefrioui de terem “claramente emitido uma fatwa” contra Paty por ter mostrado caricaturas de Maomé nas aulas.

Os dois homens, que lançaram uma campanha de mobilização para denunciar a iniciativa do professor, estão entre 11 suspeitos que já foram detidos.

O assassinato do professor foi cometido por Abdullakh Anzorov, um muçulmano russo da Chechénia de 18 anos, nascido em Moscovo,, que foi morto por nove tiros da polícia pouco depois do crime.

Os investigadores tentam descobrir se o jovem foi “liderado” por alguém ou se decidiu sozinho matar o professor.

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