Bolsonaro assume Ministério do Ambiente pró-agronegócio

por Filipe Sousa
Filipe Sousa

Jair Bolsonaro acabou por assumir que o seu ministro do Ambiente tem adotado uma postura que defende mais o agronegócio do que o meio ambiente. Ao lado de Ricardo Salles, declarou que o governo que lidera deixou de ser um obstáculo para os produtores rurais.

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse hoje que os produtores não serão mais afetados pelo que classificou de “pacote de maldades” e garantiu que o seu Ministério do Meio Ambiente “não atrapalha mais a vida” do empresariado.

“O nosso Ministério do Meio Ambiente realmente não atrapalha mais a vida de vocês. Muito pelo contrário, ajuda-os e muito. Relembrem há algum tempo como” órgãos de fiscalização ambiental “tratavam vocês e como esse tratamento atualmente é dispensado”, afirmou Bolsonaro durante a inauguração de uma central de biogás no interior de São Paulo, tendo sido aplaudido pela plateia, segundo a imprensa local.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles também esteve presente na cerimónia, acompanhando Bolsonaro. Salles e o governo que integra são acusados por várias organizações não-governamentais de “desmantelar” órgãos que controlam possíveis crimes nos ecossistemas brasileiros.

Jair Bolsonaro acredita que é bem-visto “pelo pessoal do campo”. E acredita que a sua política defende esse brasileiro: “Acabou o tempo em que um chefe de Estado ia para fora e voltava para cá com um pacote de maldades, onde quem pagava a conta era, geralmente, o homem do campo”, disse.

Em alusão à cimeira do G20, no Japão, em 2019, quando rejeitou a proposta de aumento de reservas indígenas por parte do presidente francês, Emmanuel Macron, com quem trocou acusações na ocasião, Bolsonaro afirmou que “O Presidente de um grande país da Europa que quase sempre está na vanguarda para nos criticar, ele queria que nós ampliássemos de 12% para 20% a quantidade de áreas demarcadas como terras indígenas. Nenhuma reserva foi demarcada até ao momento e cada vez lutamos mais (…) para que o índio possa, se essa for a sua vontade, explorar o seu território da melhor maneira lhe que seja útil”.

O ministro Ricardo Salles, cuja gestão é duramente criticada por ambientalistas, promoveu recentemente a exclusão de proteção ambiental dos mangues e da vegetação de parte das praias do Brasil. Uma decisão que foi rapidamente suspensa pela justiça brasileira.

As organizações de defesa do meio ambiente apontam o dedo a Salles e apontam a eliminação das normas de conservação como uma forma de atender a pedidos do setor imobiliário, e da indústria de hotelaria e do agronegócio, interessados em explorar áreas cuja ocupação era proibida.

“Desde que está no cargo, Salles procura alterar as regras de proteção ambiental e beneficiar aqueles para os quais verdadeiramente governa – os setores do agronegócio, imobiliário, turismo e indústria. Ele sabia que, para aprovar regulações contrárias ao interesse público e prejudiciais ao meio ambiente, um passo importante e fundamental seria excluir a sociedade civil e a ciência do debate”, denunciou a organização não-governamental (ONG) Greenpeace Brasil, em comunicado, no início do mês.

A Greenpeace também acusou o ministro de descaracterizar e esvaziar o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), um órgão consultivo e deliberativo que tinha um papel importante na construção de políticas públicas e na regulamentação das leis ambientais no Brasil. Em maio de 2019, o Conselho foi reduzido de aproximadamente 100 membros para apenas 23, sendo 41% destes ligados e indicados pelo Governo brasileiro.

Sob a gestão do atual executivo, os incêndios na Amazónia e no Pantanal, assim como a desflorestação, têm batido recordes. No mês passado, o Pantanal brasileiro registou 8.106 focos de incêndio, um número recorde desde 1998. Algo que, para Salles, seria resolvido pelo “boi-bombeiro”. Essa teoria, partilhada pela ministra da Agricultura, defende que se aumentasse a quantidade de cabeças de gado no pantanal, iria impedir a quantidade de incêndios na região. O que parecem ignorar é que, assim como os fogos, também a quantidade de gado bovino no pantanal tem vindo a aumentar, o que deita por terra a teoria de Salles e Tereza Cristina.

Já a Amazónia brasileira registou, entre janeiro e setembro deste ano, 76.030 queimadas, o maior número desde 2010, quando foram registados 102.409 focos de incêndio no mesmo período, informou na semana passada o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

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