O farmacêutico minhoto que foi à guerra na Guiné e voltou para salvar vidas 40 anos depois

por Fernanda Mira
Leonídio Paulo Ferreira

Manuel Pimenta ajudou tanto em Cacheu, que a rua da maternidade da cidade tem o seu nome. E a paixão pelos guineenses já conquistou toda a família, a começar pela filha Manuela, farmacêutica como ele, que também tem feito muito para apoiar aquele povo africano tão ligado a Portugal.

“Passei dois Natais na Guiné, também foram dois aniversários”, relembra Manuel Pimenta, farmacêutico, “repescado” para ir para a guerra quando tinha 29 anos. “Cheguei em junho, e a 24 de dezembro fiz lá os meus 30 anos”, conta, sentado no laboratório de análises clínicas em Ponte de Lima que tem o seu nome. Quem socorre o pai quando a memória parece falhar é Manuela Pimenta, a filha também farmacêutica. Conheci ambos há dois anos numa reportagem em Bissau, quando visitava o hospital de Bôr, e fiquei de um dia contar a história do farmacêutico minhoto que foi à guerra na Guiné e voltou 40 anos depois para salvar vidas.

Ao contrário de muitos outros soldados portugueses enviados para a Guiné, Angola e Moçambique, Manuel Pimenta não foi chamado para África para combater. Foi para trabalhar na chefia dos serviços de saúde da então colónia portuguesa, e “como tinha pouco que fazer”, deu uma ajuda no laboratório de um hospital hoje em ruínas, situado junto à estrada que leva ao aeroporto. Também trabalhou no hospital central de Bissau, hoje chamado de Simão Mendes, um herói guineense. Desse tempo recorda sobretudo como portugueses e guineenses se entendiam bem, pois “o que combatia eram as ideologias, não os povos”.

Na Guiné, era a guerrilha do PAIGC que lutava pela libertação. E foi uma guerra duríssima, com a independência a ser proclamada em 1973, ainda antes do 25 de Abril em Portugal (foi reconhecida logo em 1974). Mas a memória de Manuel Pimenta, hoje como 82 anos, destaca sobretudo o que viu de positivo, como “aqueles helicópteros que vinham buscar até grávidas”.

Ora, foi a condição das grávidas guineenses que levou mais de 40 anos depois o farmacêutico de Ponte de Lima de volta a África. “Fui lá em 2011 com um amigo aqui de Ponte de Lima, que era administrador da Universidade Lusófona, o António Montenegro Fiúza. Entretanto, soube que havia uma associação em Viana do Castelo que tentava juntar dinheiro para construir uma maternidade no Cacheu. Um português, ex-combatente, o José Luís Carvalhido, professor, foi lá e viu uma coisa horrorosa, a morte de uma jovem parturiente”, conta.

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