Vacina não é (só) covid

por Fernanda Mira
Fernanda MiraFernanda Mira*

Foi com alguma surpresa que o mundo recebeu a notícia da indicação, por unanimidade, do português Durão Barroso para o cargo de presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI). Foram muitos os comentários contraditórios e algumas as preplexidades manifestadas.

Muitas destas preplexidades são associadas aos inúmeros cargos de topo acumulados por Durão Barroso nos últimos anos. Sendo o último dos quais a presidência não-executiva do Banco Goldman Sachs International. De facto, a carreira internacional – muito ligada à política e à alta finança – do ex-primeiro-ministro de Portugal não faria supor a nomeação para este novo cargo de uma instituição que poucos, ouso dizer muito poucos, conhecem o seu propósito.

A repercursão da nomeação ganhou eco maior, nestes tempos de covid-19 e que o mundo clama pela chegada de uma vacina. Há mais, muito mais, doenças e vitimam mais pessoas que a covid-19.

Mas, afinal, do que falamos quando falamos da Aliança Global para as Vacinas?

GAVI, a Aliança para as vacinas, é uma parceria público-privada única, comprometida em salvar a vida de crianças e proteger a saúde das pessoas, aumentando o acesso às vacinas em países de baixa renda.

Desde 2000, 580 milhões de crianças em mais de 70 países foram imunizadas com vacinas apoiadas pela GAVI. Só em 2015, foram imunizadas 65 milhões de crianças em vários países.

Com a ajuda da GAVI, 73 países introduziram uma vacina que protege contra o tétano, hepatite B, difteria, bem como meningite bacteriana e pneumonia; 54 já introduziram uma vacina que protege contra a principal causa de pneumonia e 37 países introduziram uma vacina contra a principal causa de doenças diarreicas. Tanto a pneumonia como a diarreia são a principal causa de mortalidade de menores de cinco anos.

É este o ‘património’ herdado por Durão Barroso.

Aguardo que Durão Barroso não se deixe tomar pela espuma dos dias da covid-19 e seja capaz de manter esta luta diária de salvar vidas em países mais desfavorecidos e fragéis nesta aparente economia global. E não se deixe enredar pela pressão da urgência de uma vacina ansiada, especialmente, pleo países mais desenvolvidos.

Durão Barroso tem todas as condições, assim o deseje, muito pela sua experiência internacional, nomeadamente no contexto africano e lusófono, para impulsionar e garantir que os grandes intuitos da missão da GAVI não esmoreçam. E assim possa e consiga manter o intuito de salvar a vida dos mais desfavorecidos.

*Editora da edição portuguesa do Plataforma

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