Situação na Europa preocupa apesar das novas restrições

por Guilherme Rego

O tempo é cada vez mais curto se os países europeus não quiserem reviver a situação sanitária de março, estimou a União Europeia (UE) nesta quinta-feira, coincidindo com novas medidas de restrição em Espanha, França e Reino Unido que, em alguns casos, esbarram no descontentamento dos cidadãos.

Nas palavras da comissária de Segurança Alimentar e Saúde, Stella Kyriakides, os Estados membros devem reforçar “imediatamente” as medidas de controlo e proteção para evitar uma segunda onda da pandemia.

“Talvez seja a última oportunidade de evitar a mesma situação da primavera passada” (hemisfério norte), afirmou a comissária, que considera a situação “realmente preocupante”.

“Não podemos baixar a guarda. Esta crise não foi superada”, insistiu, antes de recordar que o inverno, que começará em breve na Europa, “é o período do ano em que temos mais doenças respiratórias”.

Na mesma linha, o Centro Europeu para a Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) afirmou nesta quinta-feira que sete países da UE (Espanha, Romênia, Bulgária, Croácia, Hungria, República Tcheca e Malta) registam uma evolução da pandemia de covid-19 que provoca uma “grande preocupação” e um risco elevado de mortalidade.

Estes países mostram uma “proporção mais elevada de casos graves ou de hospitalizações”, com um crescimento “constatado” da mortalidade ou que “pode acontecer em breve”.

No total, a Europa superou a marca de cinco milhões de contágios de covid-19 e a pandemia matou quase 228.000 pessoas no continente.

Em todo o mundo, a pandemia provocou mais de 978.000 mortes desde o fim de dezembro e infectou quase 32 milhões de pessoas, de acordo com um balanço da AFP, com base em números oficiais dos países.

Restrições ou abismo

Kyriakides destacou que a flexibilização das medidas de controlo durante o verão europeu levou a “um aumento do número de casos”.

O mesmo aconteceu em Israel, que respeitou durante meses um confinamento que conseguiu afastar a pandemia, mas viu os números a disparar com a flexibilização das restrições. O cenário levou o governo a optar por um confinamento mais severo.

“Se não tomarmos medidas imediatas e duras vamos cair num abismo”, afirmou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

A partir de sexta-feira às 14H00 (8H00 de Brasília) as sinagogas permanecerão fechadas, exceto para o Yom Kippur (Dia do Perdão, celebrado no domingo à noite e segunda-feira), apenas os setores de trabalho considerados “essenciais” poderão continuar de portas abertas e as reuniões a céu aberto serão limitadas a 20 pessoas e a menos de um quilômetro da residência.

As autoridades também estão a avaliar o fecho do aeroporto internacional Ben Gurion de Tel Aviv.

As medidas anunciadas pelo governo de Netanyahu foram criticadas em Israel, como acontece em outros países que adotam restrições para evitar uma segunda onda.

Na França, as prefeituras de Paris e Marselha expressaram descontentamento com os anúncios feitos ontem pelo governo federal. A cidade de Marselha, particularmente afetada pelo novo coronavírus, chamou de “afronta” o anúncio do fecho de todos os bares e restaurantes a partir de sábado. Um representante local classificou a medida de “castigo coletivo”.

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, também expressou irritação com a ideia de fechar as academias e instalações desportivas e permitir que os bares permaneçam abertos apenas até 22H00. As medidas anunciadas “são difíceis de entender”, criticou.

As concentrações passarão a ser limitadas a mil pessoas, frente às 5 mil atuais. A medida afeta especialmente o torneio de ténis de Roland-Garros, que terá início no próximo domingo, com quatro meses de atraso.

A França registrou 16.096 novos casos nas últimas 24 horas, e a situação nos hospitais começa a ficar preocupante. “A opinião pública deve ficar muito atenta. Se não agirmos, poderemos nos encontrar numa situação próxima à da primavera, o que pode querer dizer reconfinamento”, avisou o primeiro-ministro francês, Jean Castex.

O mesmo problema ocorre na Grécia, onde o primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, estima que “o dilema atual é autoproteção ou confinamento”, ante o número crescente de infetados naquele país.

O aumento dos novos casos também é vertiginoso em Espanha, Rússia e Reino Unido. O ministro britânico das Finanças, Rishi Sunak, anunciou nesta quinta-feira novas medidas para apoiar a economia e o emprego, com a aceleração da pandemia.

Em Bruxelas, os líderes europeus expressaram preocupação com os protestos e o cansaço de parte da população relativamente às medidas de restrição, e fizeram um apelo aos governantes para que lutem contra a “desinformação” e as notícias falsas, que aumentam a confusão entre os cidadãos.

Jogos Olímpicos com ou sem vacina

O continente americano permanece como o mais afetado pela covid-19. Estados Unidos, país mais afetado do planeta, regista um balanço de 201.910 mortes e quase sete milhões de contágios. Na América Latina e Caribe foram contabilizadas 330.403 vítimas fatais e 8,4 milhões de contágios.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) recordou que Brasil, Peru, Colômbia, México e Argentina continuam entre os 10 primeiros países com o maior número de contágios do mundo.

Carissa Etienne, diretora da OPAS, unidade regional da OMS, advertiu que a covid-19 seguirá em propagação, mesmo com uma vacina, e pediu aos países que se preparem para imunizar a população sem baixar a guarda.

Nesta quinta-feira, o presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, afirmou que os Jogos de Tóquio, adiados de 2020 para 2021, podem ser disputados mesmo sem o desenvolvimento de uma vacina.

“O desporto retorna lento, mas seguro, no mundo, celebrou Bach. “Eventos muito complexos como a Volta da França, que terminou no domingo, mostraram ao mundo que eventos esportivos podem ser organizados, mesmo sem a vacina”, completou.

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