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Entrevista exclusiva a Henriques Dhlakama: “Estamos em risco de assistir ao fim da RENAMO no curto prazo”

Gonçalo Lopes

Na primeira parte da entrevista, Henriques Dhlakama fez uma avaliação do seu país e agora fala mais sobre a sua candidatura e o atual contexto político em Moçambique

Henriques Afonso Dhlakama nasceu a 22 de Outubro de 1987, na mesma localidade de nascimento de seu pai, concretamente em Mangunde, Chibabava. Passando parte da sua infância em Moçambique, seu pai decidiu enviá-lo para Portugal, onde estudou, e de onde intermitentemente ia regressando a Moçambique, acompanhando os seus pais em deslocações oficiais. Em 2012, contudo, regressa em definitivo a Moçambique, passando a residir em Maputo. Agora, oito anos depois, avança para uma candidatura à Presidência e nesta entrevista revela algumas das razões para esta tomada de decisão.

Porque se candidata e o quais os principais planos/orientações caso vença as eleições em 2024?

A minha candidatura teve origem numa avaliação que fiz do estado atual do país, da sociedade e da oposição. Sempre acompanhei os desenvolvimentos políticos, económicos e sociais de Moçambique e o país chegou agora a um ponto em que decisões sérias têm de ser tomadas. Está em causa a integridade do Estado moçambicano e o futuro das populações, que estimo irá sofrer uma degradação acelerada a partir de 2024, dependendo das nossas decisões até lá.

Que avaliação faz da presidência de Filipe Nyussi?

Tenho uma opinião pessoal. Respeito as opções seguidas, mas discordo de muitas. Mas temos de ser justos e tenho absoluta certeza, que o governo e o Chefe de Estado procuram fazer as melhores opções, dentro do que é a sua ideologia e experiência. Eu faria diferentes opções, em muitos casos, mas é a minha opinião e vale o que vale. Neste momento, preocupa-me mais a falta de uma oposição forte e a situação política e económica no geral do país, que é consequência não das ações da atual presidência, mas de um caminho que se escolheu, desde 1975.

Está em causa a integridade do Estado moçambicano e o futuro das populações, que estimo irá sofrer uma degradação acelerada a partir de 2024, dependendo das nossas decisões até lá.

Qual é a sua base de apoio e quem o apoia nesta eleição presidencial?

A minha base de apoio é transversal a toda a sociedade e partidos políticos, ancorando-se naturalmente em maior percentagem no eleitorado da oposição. E não há forma de especificar, na medida em que o feedback que recebo é desde a indecisos, descontentes, desmotivados, altos e médios e baixos quadros partidários, estruturas locais, militantes e simpatizantes de vários partidos. É uma situação tão grave que a minha base de apoio são todos os moçambicanos que querem viver num Moçambique moderno e pujante, com acesso a todos os direitos que lhes assistem. A mim comove-me, para além de palavras, e não me canso de agradecer a confiança que estão a depositar em mim. Não os desapontarei.

Ossufo Momade, líder da RENAMO, revelou recentemente que o partido não o apoiará. O que pensa desta afirmação e acha-o capaz de estar à frente do Partido?

Como já tive oportunidade de referir, penso ter sido uma opinião pessoal pois, que eu tenha conhecimento não foram consultadas as bases. Para além disso, os dados na minha posse de apoio da estrutura e militantes e simpatizantes à minha candidatura, revelam, na minha opinião um completo alheamento da realidade, pela atual direção da RENAMO. É um assunto interno, no qual não me envolvo. Tenho a minha opinião pessoal aqui também, e penso que, como seria em outro partido político qualquer, uma liderança que é alvo de tantas críticas públicas tem eventualmente de se submeter a uma nova legitimação. Se o fizerem, agora e já, e a atual direção sair reforçada, estão de parabéns e demonstram qualidades de liderança. Irão a tempo de participar nas mudanças. Se o fizerem só na data que estavam a prever, irão ter uma surpresa amarga. Não é justo para as bases do partido, mas sei que os militantes e simpatizantes não se deixarão amordaçar e, na hora de decidirem, sei para onde irá o voto, e não é para o partido que os amordaçou.

Diz estar alinhado com a ideologia da RENAMO, mesmo que o partido acabe por não o apoiar, a candidatura será para levar avante?

A candidatura será levada até eu ganhar ou perder as eleições. Não há “ses”, nem “mas”, nem caminhos ínvios ou interesses obscuros. Sei que haverá os maldizentes do costume, os acomodados, os incompetentes, os interesseiros e os interesses instalados, os vendidos e os comprados, os carreiristas e os especialistas de cartilha que irão sempre tentar colocar entraves e difamar. Mas vejo-nos, eu e os moçambicanos, como superiores a isso tudo, e cada crítica não fundamentada ou maldosa ou preconceituosa que nos façam, será um grão de areia a tentar parar um comboio. Não para, porque os moçambicanos estão fartos.

Um dos seus principais objetivos, além da candidatura, é também assumir a RENAMO?

Como já referi e reforço: sou um candidato à Presidência da República. Não pertenço à estrutura da RENAMO, apesar de me identificar ideologicamente. Não vou criar algum partido e não pretendo assumir a presidência da RENAMO. Sou o candidato de todos os moçambicanos, em especial de toda a oposição, mas no final quero ser eleito para representar todos os moçambicanos enquanto Presidente da República.

Também é da opinião, como alguns, que a morte de seu pai está a significar o fim da RENAMO? O que pensa que está mal?

Os problemas da RENAMO, na minha opinião, já os referi em cima. Sim, estamos em risco de assistir ao fim da RENAMO no curto prazo. Depende das decisões da atual direção, em tomar a atitude certa e se submeterem a legitimação de imediato, ou de persistirem na decisão suicida de não ouvir nem ver o que se passa à sua volta. E depende ainda mais da vontade de mobilização das bases e estruturas, que poderão decidir dar uma lição à atual direção da RENAMO nas urnas ou acharem que não querem perder um comboio que todos os outros vão apanhar, mobilizando-se já em massa e resolvendo a questão em dias, semanas, meses… não sei.

Não pertenço à estrutura da RENAMO, apesar de me identificar ideologicamente. Não vou criar algum partido e não pretendo assumir a presidência da RENAMO

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