Mercado brasileiro do futebol sofre com a pandemia

por Guilherme Rego

O Brasil exporta mais jogadores de futebol do que qualquer outro país, mas a pandemia do coronavírus causou uma queda nas transferências internacionais, atingindo as finanças de clubes que dependem de negócios lucrativos para os seus jovens talentos.

O número de jogadores de futebol brasileiros transferidos para clubes estrangeiros caiu 62 por cento durante a janela de transferências do verão europeu neste ano, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados do site Transfermarkt.

De 1º de junho a 8 de setembro do ano passado, 194 jogadores de clubes brasileiros partiram para jogar no exterior, por empréstimo ou por transferência, segundo o site.

Este ano, o número foi de apenas 74.

“O mercado de transferências desacelerou. Os clubes estão tentando não gastar tanto porque a situação financeira de todos é complicada”, disse o comentarista da ESPN Gustavo Hofman.

O Brasil lidera o mundo com 2.742 jogadores no exterior, à frente da Argentina (2.330) e da França (1.740), segundo relatório de maio do International Center for Sports Studies, da Suíça.

No país de Pelé e Neymar, as transferências normalmente geram cerca de um quarto da receita dos clubes, perdendo apenas para os direitos de TV como fonte de receita.

Mas o número de transferências não é a única coisa que caiu. Há uma incerteza financeira desencadeada pela Covid-19, a quantidade de dinheiro envolvida nos negócios também caiu.

No ano passado, as três principais transferências internacionais renderam 77 milhões de euros (US $ 91,4 milhões) aos clubes brasileiros. Isso incluiu um acordo de 45 milhões de euros entre o Real Madrid e o clube brasileiro Santos para o ala adolescente Rodrygo.

Este ano, as três principais transferências renderam menos de 62 milhões de euros aos clubes brasileiros. Na maior, o clube português Benfica pagou 28 milhões de euros ao Grêmio pelo atacante e destaque da Seleção Everton.

O clube lisboeta também pagou 18 milhões de euros para trazer o meia-atacante Pedrinho do Corinthians.

“Em qualquer outro ano, o (Everton) poderia ter trazido um preço mais elevado do Benfica”, disse Hofman.

Finanças frágeis

A queda chega no pior momento possível para os clubes brasileiros, que já lutavam com dívidas pesadas. Agora, também estão a sofrer com as consequências económicas da Covid-19 no país que tem o segundo maior número de mortes no mundo, depois dos Estados Unidos.

“A fragilidade financeira dos clubes aumentou por causa da pandemia”, disse Rodrigo Capelo, jornalista de negócios esportivos da rede brasileira da média Globo.

A pandemia levou as autoridades no Brasil a cancelar todos os jogos de futebol por quase quatro meses, destruindo as receitas de patrocínio, TV e ingressos de clubes.

A crise económica tornou as transferências internacionais ainda mais atrativas, pois fez com que o real brasileiro despencasse em relação ao dólar e ao euro.

Isso significa que o valor para levar para casa aumentou para os clubes brasileiros, num momento em que lutam para sobreviver com outras fontes de receita.

Mas “os clubes europeus estão apertando o cinto”, já que também lutam com as incertezas económicas da pandemia, disse o agente Edgardo Aguilar.

O valor das transferências realizadas pela sua empresa, o Soccer Stars Group, despencou 70% este ano.

Efeito cascata

A situação está a ter um efeito cascata na América do Sul.

Em tempos normais, o Brasil também é um grande importador de talentos do futebol. Mas este ano, os clubes reduziram drasticamente os acordos de transferência de jogadores de países como Uruguai, Peru e Colômbia.

“Basicamente contentaram-se com jogadores que já estavam no mercado no Brasil”, disse o agente colombiano Carlos Calero, da World Sports Management.

Normalmente negocia três acordos por temporada para enviar jogadores de outros lugares da América do Sul para clubes brasileiros.

Este ano, ele não fez nenhum.

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